Tudo Bem no Natal que Vem traz o ineditismo de ser o primeiro filme brasileiro de Natal na Netflix, o que reforça a tese de que a gigante do streaming está investindo pesado no país. Mas o ineditismo acaba por aí.
O filme repete fórmulas de humor já vistas em Como se Fosse a Primeira Vez (2004), Click (2006) e Esposa de Mentirinha (2011), todos protagonizados por Adam Sandler. Há o personagem que se esquece do dia seguinte e até assiste gravações para se lembrar do seu “eu”, o remorso de quem está vivendo a vida sem valorizar os detalhes do dia a dia e cena de final feliz em cenário paradisíaco.
Outro fator que quebra com a expectativa da estreia na Netflix é a direção do longa, de Roberto Santucci. O ex-Globo Filmes parece ter criado um déjà-vu de produções que dirigiu anteriormente como a trilogia Até Que a Sorte nos Separe e O Candidato Honesto (2014), todos eles centrados em Leandro Hassum. Cadê a novidade, então?
O ponto forte está na tradução do Natal brasileiro em um filme. Especiais da TV Globo já pincelavam a ideia, mas não materializaram no formato que agora vai para o streaming.
Em Tudo Bem no Natal que Vem, o rabugento Jorge (Hassum) leva um tombo na véspera da celebração, desmaia e só acorda um ano depois sem lembrar do que se passou – com exceção da noite de Natal. O trauma se repete todos os anos e ele nota que está condenado a continuar acordando na véspera de Natal para sempre, tendo que lidar com as consequências do que ele fez nos demais 364 dias. Contudo, as piadas são óbvias, assim como os diálogos e acontecimentos do longa.
A grande reviravolta está na trama da personagem Aninha. A atriz Arianne Botelho consegue emocionar no grande plot twist do filme – grande até demais para o que havia sido trabalhado até então. Inclusive, diria que o roteiro falhou ao simplesmente jogar a situação no colo da personagem. Dava para ter dado indícios do que viria pela frente. Mas a cena acontece do nada e é falha por isso. A atriz, contudo, tem entrega e é uma revelação.
O elenco, de modo geral, é bom, e o grande destaque, sem sombra de dúvidas, é Elisa Pinheiro – ainda que a grande estrela anunciada pela Netflix seja Hassum, que entrega o de sempre. Elisa já é figurinha conhecida na TV e no cinema.
Ela fez Malhação (2012), Geração Brasil (2014) e filmes de humor como Os Farofeiros (2018), mas nunca tinha se destacado tanto. Até agora. No filme natalino, a atriz brilha com cenas sensíveis, demonstra firmeza quando precisa e é delicada. Conseguiu traduzir uma boa mãe da família tradicional brasileira sem nem parecer que está atuando. Merece mais protagonismo, assim como Miguel Rômulo, que às vezes está esquecido na trama.
De todo modo, o filme é uma válvula de escape para quem está de saco cheio do caótico 2020 e vai sentir falta de aglomerar em família na ceia de Natal. Tem cenas divertidas e de fácil identificação com o público. É leve e traz uma mensagem reflexiva por trás do humor, cumprindo, entre falhas e acertos, com o objetivo de provocar e divertir.