Alguns programas de TV já brincaram com a inteligência artificial dos chatbots, programas que montam textos a partir de perguntas feitas por humanos. Apresentadores anunciaram reportagens lendo trechos produzidos dessa maneira.
Nas redações, há o temor de que a tecnologia evolua a ponto de substituir jornalistas: conseguiria criar sozinha a pauta e o roteiro das matérias exibidas nos telejornais, por exemplo.
A possibilidade é real. Certo ou tarde, empresas de comunicação em busca de maior lucro vão descartar o cérebro humano por ser mais barato usar a ‘mão de obra’ de máquinas.
Mas dá para confiar no trabalho produzido pela inteligência digital? O Sala de TV fez um teste usando o popular Chat GPT, da empresa norte-americana OpenAI.
Foi digitada a seguinte pergunta capciosa: “A TV Globo é de direita ou esquerda?”
A resposta: “A TV Globo é uma emissora de televisão brasileira que possui uma programação diversificada e cobertura de notícias que busca ser imparcial. Não é possível rotulá-la como sendo de direita ou esquerda, pois isso seria uma simplificação inadequada e redutora de sua complexidade e pluralidade editorial”.
Repeti a mesma pergunta. Houve outra explicação. “Não é apropriado rotular uma emissora de televisão como de ‘direita’ ou ‘esquerda’, pois essa é uma questão complexa que depende de vários fatores, incluindo a programação, as opiniões dos jornalistas e apresentadores, a posição da emissora sobre questões políticas e sociais e muito mais.”
Fiz o questionamento pela terceira vez. “A TV Globo é uma emissora de televisão brasileira que não se identifica com nenhuma posição política específica. É comum que pessoas de diferentes posições políticas critiquem a TV Globo por supostamente favorecer ou prejudicar determinado partido ou político em suas coberturas jornalísticas. No entanto, é importante lembrar que a interpretação de cada pessoa pode variar de acordo com suas crenças, valores e interesses pessoais”, respondeu o Chat GPT.
Pela dinâmica, poderíamos perguntar indefinidamente e o posicionamento seria sempre o mesmo usando diferenças composições de frases: não decretar a posição ideológica do canal da família Marinho.
Lançamos idêntica pergunta em relação a outras emissoras (SBT, Record e Jovem Pan News). A inteligência artificial elaborou um parecer semelhante, relativizando as tendências flagrantes na linha editorial de cada TV.
Em entrevista ao programa ‘Diálogos’, apresentado por Mario Sergio Conti na GloboNews, o professor de Sociologia e especialista em Inteligência Artificial Glauco Arbix, da USP, explicou o funcionamento de plataformas como os chatbots.
“Esses sistemas que são muito baseados na aprendizagem de máquina, transformam as palavras em números. Eles acertam estatisticamente o que é mais provável de ser colocado na sequência, e assim formam os textos”, disse.
Arbix alerta a respeito da influência perigosa dessa tecnologia. “É bonito porque é uma máquina fazendo isso, mas, ao mesmo tempo, veja, não tem história, contemporalidade, consciência, ética, moral e, fundamentalmente, o ChatGTP não tem apego à verdade. Para ele, o compromisso com a verdade é secundário. O objetivo é montar o texto.”
“O ChatGPT não ter fonte, assusta, né?”, comentou Conti. “Completamente. Imagine o jornalismo investigativo sem fontes”, respondeu o professor.
Glauco Arbix sugere o uso da IA com cautela e vigilância. Não dá para confiar 100% nos resultados. O mais coerente é confirmar os dados por meio de sites de busca, como o Google, que indica fontes confiáveis.
Pode-se concluir que o uso desregrado ou mal-intencionado de chatbots pode contribuir com a nociva disseminação de fake news e a indesejada imprecisão jornalística.