Os autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares desafiaram o moralismo dos telespectadores da Globo ao colocar em ‘Paraíso Tropical’ uma garota de programa desbocada e extravagante que buscava clientes na orla de Copacabana.
Bebel poderia ter escandalizado o público conservador e acabar rejeitada a ponto de perder espaço na trama ou até mesmo ser ‘morta’, como aconteceu com tantos personagens incompatíveis com os preceitos puritanos.
Aconteceu o contrário: a prostituta interesseira que exalava luxúria caiu no gosto da audiência. Mérito do texto cômico e da atuação inspirada de Camila Pitanga. O delicioso bordão “Sou uma mulher de ‘catiguria’” entrou para o anedotário popular.
A seu modo, Bebel se fez heroína. Batalhava pela sobrevivência e tentava viver um grande amor, como toda ‘mocinha’ de folhetim. Sofria com a própria insegurança e a humilhação praticada pelos esnobes, como qualquer pessoa marginalizada em busca de ascensão.
A personagem superou o estigma intrínseco à figura da biscate, sempre tão hipocritamente julgada pela tradicional (e inquisidora) família brasileira. “Entre as prostitutas e as que se vendem pelo casamento, a única diferença consiste no preço e na duração do contrato”, escreveu a intelectual francesa Simone de Beauvoir, ícone do feminismo na segunda metade do século 20.
Exibida originalmente entre março e setembro de 2007 na faixa das 21h da Globo, ‘Paraíso Tropical’ está de volta no canal Viva, às 15h e 23h45. Nova chance para se divertir com a meretriz carismática que sonha ser dama da alta sociedade carioca.
O par romântico formado por Bebel e o vilão Olavo (Wagner Moura, em sua última novela) roubou a cena. Todo mundo torcia pela felicidade do casal incomum. Tudo neles era convincente: o tesão, a ambição, o conflito social, o ciúme, o humor desavergonhado, as brigas barulhentas...
Atenção: spoiler a seguir.
O desfecho trágico de Olavo rouba de Bebel um final feliz típico. Mas ela se dá bem: seduz um deputado federal e vira assessora parlamentar em Brasília. Mais atual – e oportunamente crítico – do que nunca.