Você liga a TV na faixa mais nobre da programação, à noite, e se depara com escritores e críticos a conversar sobre lançamentos literários e a cultura em geral.
Trata-se do programa La Grande Librairie (A Grande Livraria) no canal France 5. No ar desde 2008, é a atração mais influente do gênero entre os franceses.
O País de escritores fantásticos (Voltaire, Balzac, Dumas, Flaubert, Baudelaire, Duras, Camus...) tem mais de dez atrações dedicadas aos livros em emissoras públicas e privadas.
A audiência fiel e a repercussão nas vendas em livrarias físicas mostram como a literatura e a televisão podem caminhar juntas com benefícios a ambas.
No Brasil, há poucos programas dedicados ao tema. Alguns excelentes – Entrelinhas, da TV Cultura, GloboNews Literatura e Arte 1 Encontros Literários – deixaram de ser produzidos.
Em conversa com o blog, o livreiro Samuel Seibel, presidente da Livraria da Vila, comenta a importância da teledramaturgia baseada em obras literárias e comenta o projeto de taxação dos livros.
Em vários países, como a França, há programas sobre literatura onde autores são entrevistados no horário nobre. Iniciativas como essa, no Brasil, ajudariam a reverter a crise no mercado editorial?
Toda iniciativa que ajude a movimentar o mercado editorial é sempre bem-vinda. Programas como estes acontecem em diversos Países como parte de uma agenda cultural. Despertam interesse do público, e não porque há uma crise do setor. No Brasil, onde precisamos criar novos leitores, sem dúvida esta ideia motivaria muitas pessoas a comprar um livro.
Ainda na França, as livrarias ficaram abertas no último lockdown porque, após pressão popular, o governo as classificou como estabelecimentos essenciais, assim como os mercados. O que acha disso?
E não foi apenas na França; outros Países também reconheceram a importância das livrarias neste momento tão delicado. Afinal, se a comida é o alimento do corpo, os livros são o alimento da alma. É assim que foram vistos pelos locais que classificaram as livrarias como comércio essencial.
O que achou do documento da Receita Federal que sugere a taxação de livros na reforma tributária porque seriam produtos não consumidos pelos brasileiros mais pobres?
Um absurdo, além de não corresponder à verdade. Tal visão só reforça a desigualdade hoje existente no País. É evidente que as pessoas com menor poder aquisitivo não deixarão de comprar comida para adquirir um livro. Mas isso não significa que não sejam leitores. Taxar o livro e, consequentemente, aumentar o seu preço de capa, certamente não é a medida mais inteligente e justa para permitir o acesso aos livros. Ao contrário, investir na Educação e facilitar a leitura para o maior número possível de cidadãos, isso sim é dar um salto numa maior igualdade de oportunidades. Criar mecanismos para impedir isso é um desserviço à Nação.
Adaptações de livros pela teledramaturgia ajudam a aumentar as vendas e a formar novos leitores?
Sim, um filme ou uma série de sucesso despertam o interesse na leitura da obra que inspirou aquela adaptação. Até porque o livro consegue aprofundar o assunto e entrar em detalhes que o filme ou a série jamais vão atingir.
Cite três livros que gostaria de ver transformados em série ou minissérie de TV.
‘1808’, ‘1822’ e ‘1889’, todos do Laurentino Gomes.
Nota do blog: a televisão brasileira fez ótimas adaptações de obras literárias, como ‘Os Maias’ (minissérie baseada no clássico homônimo de Eça de Queiroz, exibida em 2001), ‘Hoje é Dia de Maria’ (a partir de contos de vários autores, entre eles Mario de Andrade, transmitida em 2005) e ‘Capitu’ (minissérie inspirada no romance ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis, no ar em 2008), todas na Globo.