Adeus, mestra Beatriz Segall e insuperável Odete Roitman

Atriz, que tinha 92 anos, se tornou indissociável de sua personagem mais popular na TV

5 set 2018 - 15h57
(atualizado às 16h02)

Quis o destino que Beatriz Segall morresse justamente durante a reprise de Vale Tudo, novela de 1988 que deu à teledramaturgia brasileira a maior vilã de todos os tempos – e fez a atriz experimentar o auge da popularidade.

Beatriz Segall sempre interpretou mulheres ricas, chiques e de personalidade marcante
Beatriz Segall sempre interpretou mulheres ricas, chiques e de personalidade marcante
Foto: TV Globo / Divulgação

O folhetim clássico que lançou o mistério ‘Quem matou Odete Roitman?’ é exibido diariamente à tarde, com reapresentação na madrugada, no canal Viva. Mais uma vez, sucesso de audiência, como há três décadas.

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A atriz carioca, de 92 anos, morreu no início da tarde desta quarta-feira (5), no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Foi casada com o museólogo e poeta Maurício Segall (1926-2017), filho do renomado pintor e escultor Lasar Segall. Ela deixa três filhos, netos e uma legião de fãs.

Intelectual, foi professora de francês e estudou interpretação na Europa. A família nunca quis que se tornasse artista. O chamado dos palcos foi mais forte. Fez longa e premiada carreira no teatro. 

Na TV, estreou em 1956, na novela Pollyana, da TV Tupi. Chegou à Globo em 1978, quando viveu Celina em Dancin’Days

Foi uma das raras atrizes a interpretar a mesma personagem em duas novelas, por duas vezes. Lourdes Mesquita surgiu em Água Viva (1980) e depois reapareceu em Louco Amor (1983). Já Miss Brown fez parte de Barriga de Aluguel (1990) e O Clone (2001). Em 1992, Beatriz conquistou o público com Stella, uma ricaça que se divertia com os go go boys do Clube das Mulheres em De Corpo e Alma (1992).

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Mas nenhuma personagem superou Odete Roitman. A veterana já tinha 62 anos quando experimentou o ápice da fama devido ao sarcasmo e às maldades da vilã. Radicada em Paris, a dona da companhia aérea TCA volta a morar no Rio para resolver problemas na empresa e em seu disfuncional clã.

Logo ao desembarcar, deixa evidente seu mau humor em relação ao Brasil: “E eu que pensei que alguma coisa tinha mudado nesse País. Só botar o pé aqui que você começa a sentir esse calor horroroso, uma gente horrível no caminho, gente feia esperando ônibus caquéticos no ponto”.

Nos jantares em família, entre uma frase e outra em francês, ela regurgitava seu desprezo pelo País e sua gente. “Eu gosto do Brasil. Acho lindo, uma beleza. Mas de longe, no cartão postal. Essa terra aqui não tem jeito. Esse povo daqui não vai pra frente, é preguiçoso. Só se fala em crise e ninguém trabalha.”

Uma das declarações mais polêmicas da malévola de topete lembra o estilo verborrágico de certo presidenciável: “A única solução para a violência é a pena de morte. Para ladrão e assaltante, cortar a mão em praça pública. Se cortasse a mão dessa gente, diminuiria o índice de violência nesse País. Não tenha dúvida”.

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Em 24 de dezembro de 1988, quando foi ao ar o capítulo 193 de Vale Tudo, esse Brasil tão xingado parou diante da TV para acompanhar a morte da maquiavélica personagem. A novela registrou 81 pontos de audiência. Hoje, esse índice representaria 16 milhões de telespectadores somente na Grande São Paulo.

Desde então, Odete Roitman passou a ser assunto obrigatório nas entrevistas de Beatriz Segall.  A artista chegou a se irritar com a insistência para que sempre falasse da personagem. 

Depois de um tempo, passou a se divertir com a obsessão da imprensa com seu trabalho mais aplaudido na TV, e ironizava a lenda de que era “uma atriz difícil” por conta do temperamento forte.

“Você tem momentos de sucesso. Precisa ter equilíbrio suficiente para saber que são efêmeros. O que sobra é o resultado da qualidade do trabalho”, declarou em participação no Jornal Hoje, dias após ter gravado a cena do assassinato de Odete.

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Sua última aparição na teledramaturgia foi em abril de 2015, no episódio Assalto da série Os Experientes, na Globo. No mesmo ano fez seu último espetáculo, ‘Nine’ – Um Musical Felliniano’.

Elegante e sagaz, culta e imponente, Beatriz Segall foi, ela própria, uma das personagens mais interessantes destes 68 anos de televisão brasileira.

Adieu.

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