Nos Estados Unidos, muitos atores consagrados migraram das produções de Hollywood para as séries de canais abertos e fechados.
O motivo? A qualidade dos roteiros e a oportunidade de interpretar melhores papéis, sem o excesso de clichês dos personagens de blockbusters.
A televisão brasileira vive um momento semelhante. As séries de temporadas da Globo apresentam qualidade superior à dos novelões tradicionais. Por isso, atraem cada vez mais atores interessados em sair da zona de conforto para encarar desafios na carreira.
Disponível no GloboPlay e sem data de estreia na TV, Assédio, da autoria de Maria Camargo, é baseada nos relatos de vítimas do médico Roger Abdelmassih, especialista em reprodução humana condenado a quase 300 anos de prisão por mais de 50 estupros contra pacientes.
Trata-se de um primor dramatúrgico. O bom texto ganha enorme dimensão com as atuações vigorosas de atores como Antônio Calloni, na pele do médico-monstro, e Adriana Esteves, que vive uma vítima de crime sexual chamada Stella. O flerte com o gênero documental deixou impactante a produção em 10 episódios sob a direção artística de Amora Mautner.
Outro exemplo é Sob Pressão, série ambientada num hospital público, escrita por Jorge Furtado e equipe. A segunda temporada estreou na terça-feira, dia 9.
Além de retratar o caos no sistema público de saúde do Brasil, a obra conecta-se ainda mais à realidade ao discutir ética e corrupção. Um produto que cumpre duas funções: entreter e suscitar reflexão a respeito da realidade massacrante no qual vivem milhões de brasileiros.
O elenco liderado por Júlio Andrade (Dr. Evandro) e Marjorie Estiano (Dra. Carolina) oferece ao telespectador interpretações com impressionante força cênica. A direção artística de Andrucha Waddington faz um formato já muito explorado em televisão – o drama em hospital, visto em sucessos como Plantão Médico e Grey’s Anatomy – ganhar identidade própria.
Ainda na Globo, a segunda temporada de Carcereiros estreia nesta quinta-feira, dia 11. O drama escrito por Marçal Aquino, Fernando Bonassi e Dennison Ramalho retrata a alta voltagem no interior de um presídio e a vida igualmente tensa do agente Adriano (Rodrigo Lombardi). A ótima primeira temporada, no ano passado, gerou expectativa a respeito dos novos 12 episódios com direção artística de José Eduardo Belmonte.
As atrações deste tipo estão muito à frente das novelas atuais. A maioria dos autores de folhetins passa por uma crise de criatividade. Repetem exaustivamente suas fórmulas ou criam tramas incoerentes e desinteressantes.
A exceção do momento é O Tempo Não Para, de Mario Teixeira e direção artística de Leonardo Nogueira. Exibida na faixa das 19h, faz uma inventiva crônica social do passado e do presente do País.
Séries têm uma vantagem: a duração curta facilita a vida do público. Na correria diária, é mais viável acompanhar atentamente uma temporada de 10 ou 20 episódios do que uma novela que se arrasta por 170 capítulos.
Essa duração reduzida resulta em roteiros enxutos, melhor acabados, sem a enrolação típica de uma novela. A equipe técnica tem mais tempo para se dedicar à iluminação e fotografia. Assim, séries ganham padrão visual cinematográfico.
Infelizmente, a TV aberta no País apresenta poucas séries. Única emissora a produzir o formato regularmente, a Globo exibe no máximo quatro produções por ano.
A RecordTV eventualmente leva ao ar produções curtas baseadas em textos bíblicos, como Lia, de Paula Richard, no ar entre junho e julho deste ano.
Uma tentativa fora dessa linha é Terrores Urbanos, uma coprodução com a Sentimental Filme, inspirada em lendas do tipo A Loira do Banheiro, já disponível para assinantes na plataforma PlayPlus e prevista para ser exibida na TV em 2019.
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