Líder da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da RecordTV, o bispo Edir Macedo apoia o candidato Jair Bolsonaro (PSL).
O PRB, partido ligado ao grupo religioso neopentecostal, deve embarcar na campanha do deputado federal e ex-militar em eventual segundo turno.
O reflexo dessa comunhão foi visto na quinta-feira passada, dia 4, data do debate presidencial na Globo, o último e mais esperado do primeiro turno.
Por recomendação médica, Bolsonaro não compareceu ao confronto nos estúdios da emissora no Rio. Mas, no mesmo horário, apareceu na RecordTV em entrevista exclusiva conduzida pelo apresentador Eduardo Ribeiro.
Os 27 minutos de destaque a Bolsonaro no segmento ‘O Voto na Record’ renderam média de 13.6 pontos no Ibope. Foi a faixa horária de maior audiência do canal paulista naquele dia.
A exibição do debate promovido pela Globo gerou 22 pontos, 1 ponto a mais do que o encontro de presidenciáveis na emissora carioca no primeiro turno da eleição de 2014.
A aproximação entre Jair Bolsonaro e a RecordTV suscitou especulações e boatos a respeito de suposta ameaça ao poder da Globo. O parlamentar é um crítico feroz do telejornalismo da empresa. Em várias ocasiões disse se sentir perseguido.
Em vídeo postado em suas redes sociais em dezembro de 2017, o candidato do PSL avisou o que faria contra o Grupo Globo, ao qual pertencem a TV Globo e o jornal ‘O Globo’, caso vencesse a eleição presidencial.
“Vocês aí têm uma audiência de 40%, do ‘Globo’. Mas pegam 80% da propaganda oficial do governo, que em grande parte, sustenta a mídia. Se eu chegar lá, vou fazer justiça, vão perder metade disso, vão ganhar só 40%”, disse.
Em seguida, outro recado: “Façam matéria pesada sim, bastante, contra mim. Que se eu chegar, não vou perseguir vocês. Vou pagar pra vocês o que vocês merecem”.
Essas declarações foram reproduzidas por vários veículos de imprensa, inclusive a ‘Folha de S. Paulo’. O vídeo pode ser visto no YouTube.
No dia 28 de agosto, ao ser entrevistado na bancada do ‘Jornal Nacional’, o político voltou a tocar no assunto. “São bilhões que o Sistema Globo recebe de recursos da propaganda oficial do governo”, afirmou.
Em nota lida no dia seguinte por William Bonner, a Globo rebateu: “O candidato Jair Bolsonaro, do PSL, afirmou que a TV Globo recebe bilhões de recursos da propaganda oficial do governo. É uma informação absolutamente falsa. A propaganda oficial do governo federal e de suas empresas estatais corresponde a menos de 4% das receitas publicitárias e nem remotamente chega à casa do bilhão”.
Tradicionalmente, a TV Globo recebe mais verbas oficiais do que as outras principais emissoras juntas. Isso acontece em razão da audiência da emissora.
Na aferição diária da Kantar/Ibope, a Globo frequentemente registra mais público do que a soma dos índices de RecordTV e SBT. Sua liderança não corre risco, por enquanto.
Numa eventual presidência de Jair Bolsonaro e em hipotética transformação da RecordTV em emissora preferida do governo federal, a Globo até poderá sofrer revés em relação aos milhões de publicidade estatal, porém não deve sofrer perda de público.
Ao longo dos últimos anos, inúmeros boicotes contra o canal, lançados nas redes sociais, fracassaram. A TV dos Marinhos continua a dominar o sinal aberto no País.
Seu slogan ‘100 milhões de uns’, sobre o alcance de sua programação Brasil afora, não é exagero: há imensurável poder de influência sobre brasileiros de todas as ideologias político-partidárias.
Bolsonaristas e lulistas podem odiar a Globo, mas a maior parte deles consome a programação do canal e colabora com sua hegemonia.
Enquanto isso, a RecordTV guerreia décimo a décimo com o SBT pela vice-liderança, sem representar sombra de ameaça à Globo no Ibope, assim como a TV Brasil, criada pelo então presidente Lula para ser a divulgadora oficial de seu governo, sem nunca ter incomodado a todo-poderosa Globo.