O ano de 1989 começou fantástico para Gloria Pires, então com 25 anos. Ela colhia o sucesso de Maria de Fátima, uma das vilãs de Vale Tudo, ao lado de Odete Roitman (Beatriz Segall).
As gravações terminaram na primeira semana de janeiro. Após algum tempo de férias, ela recebeu uma ligação de Benedito Ruy Barbosa e do diretor Jayme Monjardim.
Os dois a convidaram para interpretar Juma em Pantanal, que estava começando a ser produzida pela TV Manchete. A atriz tinha boa relação com o autor.
Dez anos antes, havia se destacado na pele da protagonista Zuca em Cabocla, escrita por ele. As conversas sobre o papel de Juma seguiram por um tempo, porém, a negociação não foi fechada.
Gloria permaneceu na Globo. Benedito e Jayme retomaram a busca por uma intérprete para a ‘moça que vira onça’. Acabaram escalando Cristiana Oliveira, lançada pouco antes como atriz em Kananga do Japão, da própria Manchete.
Em consequência do fenômeno de audiência que foi Pantanal, a Globo, que tinha recusado o projeto 6 anos antes, recontratou Benedito Ruy Barbosa e encomendou uma trama parecida. Assim nasceu a bem-sucedida Renascer.
Gloria Pires foi cogitada para o elenco, mas já estava comprometida em fazer as gêmeas Ruth e Raquel em Mulheres de Areia. Em seguida, estrelou a minissérie Memorial de Maria Moura.
O desejado reencontro da atriz com o autor aconteceu em O Rei do Gado, no ar em 1996. Ela viveu a vilã Rafaela, que acreditava ser uma legítima Berdinazzi e herdeira da fortuna de Geremias (Raul Cortez).
Sem carisma e com pouca ação na trama, a personagem perdeu força e tinha cenas repetitivas. Apesar da postura sempre discreta e elegante, Gloria Pires não conseguiu esconder a frustração.
Em julho de 1997, pouco depois do fim da novela, ela falou a respeito no programa Por Acaso, comandado por Zé Maurício Machline na Band. “Não é segredo que em O Rei do Gado você ficou infeliz”, comentou o apresentador.
“Extremamente infeliz”, confirmou a artista. “Tem coisas na minha vida que eu amo. Estar na minha casa, com minhas filhas, meu marido. Amo também meu trabalho e detesto me sentir desperdiçada, sabe? Meu tempo é muito precioso para mim.”
Ela prosseguiu com o desabafo. “Não houve um encontro. Eu, Benedito e Luiz Fernando (Carvalho, o diretor geral de O Rei do Gado) não nos encontramos nesse trabalho. Não rolou.”
Apesar do descontentamento, Gloria não pediu para sair do folhetim, como geralmente faziam atores do primeiro time quando insatisfeitos. “Por que você ficou ali até o fim, sofrendo?”, questionou Machline.
“Eu não abandono o barco, acho muito feio. Não sou assim. Eu quis, aceitei fazer, então vamos cumprir até o fim. Tive uma postura profissional”, disse.
Gloria Pires e Benedito Ruy Barbosa nunca mais trabalharam juntos.