A presença de Lula na COP-27, no Egito, mereceu cobertura especial da Globo e GloboNews, com mais minutos sobre a pauta do que se viu nas principais concorrentes.
Alguns correspondentes foram deslocados até Sharm el-Sheikh. Entre eles, Sandra Coutinho, baseada em Nova York, e Rodrigo Carvalho, do escritório de Londres.
Nas matérias e entradas ao vivo, o presidente eleito foi retratado como um pop star na conferência do clima da ONU. Explícito tom eufórico, diferentemente do indisfarçável pessimismo na cobertura das poucas viagens ao exterior de Jair Bolsonaro.
Uma reportagem de Rodrigo — tuiteiro entusiasta de Lula e crítico do atual presidente — destacou o frenesi da imprensa internacional com as aparições do petista nos salões do evento.
No 'Jornal Nacional', Sandra ressaltou o papel da futura primeira-dama, Janja Silva, em conversas sobre a defesa do meio ambiente na COP-27, como se ela fosse uma autoridade do tema.
Pouco citada antes da eleição, a socióloga ganhou 30 minutos no 'Fantástico', em uma das mais longas e edulcoradas entrevistas na Globo em 2022.
Com acesso privilegiado à cúpula do PT, o repórter Guilherme Balza tem participação crescente na cobertura da formação do novo governo.
Na semana passada, foi enviado de São Paulo a Brasília para transmitir informações ao lado de âncoras no prédio que serve à equipe de transição.
Uma deferência por ele ser uma ligação preciosa entre a Globo e o grupo mais próximo de Lula, que sente forte repulsa em relação às TVs da família Marinho e confia em poucos jornalistas.
A emissora líder em audiência e seu canal pago de notícias parecem viver uma súbita paixonite por Lula e, consequentemente, Janja.
A polêmica suscitada pela viagem do próximo presidente ao Egito em jato particular de um amigo — o empresário José Seripieri Filho, réu e delator de crime eleitoral — poderia gerar a primeira DR.
Mas a Globo e a GloboNews apenas registraram o fato sem se aprofundar na questão. Sabe a pessoa que fecha os olhos para as fraquejadas do crush? Então...
Nem parece o mesmo jornalismo que, ao longo de anos, exibiu diuturnamente matérias desfavoráveis a Lula sobre a Operação Lava Jato e, relativizando o imprescindível contraditório, ignorou os pedidos do prisioneiro na PF de Curitiba para rebater as reportagens.
O atual flerte começou com a surpreendente declaração de William Bonner na sabatina no 'JN' ("O senhor não deve nada à Justiça"), que soou como declaração de amor nos ouvidos de Lula.
Enamorado, o petista elogiou o âncora em eventos nos dias seguintes. No último debate, às vésperas do 2º turno, a antiga animosidade já era sentimento do passado.
Em vídeo caseiro fornecido por Janja ao 'Fantástico', vimos que Lula acompanhou a apuração dos votos pela GloboNews, onde foi elogiado até pelo poderoso Merval Pereira, jornalista demonizado pelo PT e anteriormente uma voz crítica ao líder de esquerda.
Esse namorico vai virar casamento após a posse ou seremos testemunha de uma relação líquida? Inegavelmente antibolsonaristas nos últimos 4 anos, Globo e GloboNews serão pró-Lula, imparciais ou novamente opositoras do lulopetismo?
Como acontece com qualquer conexão amorosa, só o tempo dirá. Por enquanto, o presidente eleito é tratado pelos canais do clã Marinho como um noivo a ser cortejado.
Quem diria, não é, Bonner?
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