Não basta talento, você precisa militar no lado certo.
Assim é o universo televisivo hoje. O pensamento ideológico do ator determina se receberá mais ou menos convites. Com predominância de esquerdistas, a teledramaturgia costuma excluir quem se coloca no campo oposto.
Cássia Kis, Humberto Martins e Regina Duarte são declaradamente de direita. Os três foram alvos de incontáveis críticas de colegas de profissão e de parte da imprensa progressista por apoiar Jair Bolsonaro e pautas conservadoras.
Eles não possuem mais contrato com a Globo. O último trabalho de Cássia e Humberto foi a novela ‘Travessia’, de Gloria Perez, autora que os defende na emissora. Provavelmente a única. A relação dela com ambos é antiga.
A atriz fez sua primeira protagonista em ‘Barriga de Aluguel’, sucesso das 18h em 1990, obra onde o veterano galã também se destacou no começo da carreira. Ele atuou em outras produções assinadas pela dramaturga, a exemplo de ‘O Clone’, ‘América’ e ‘A Força do Querer’.
Mais do que justo se Gloria Perez quiser escalar Cássia e Humberto para sua próxima novela, a suceder o remake de ‘Vale Tudo’ em setembro ou outubro. A autora já provou não ter medo da cultura do cancelamento e parece ter carta branca da cúpula do canal para montar seus elencos.
Ela demonstra ser a única entre os autores da Globo que teria a coragem de dar um papel a Regina Duarte. Em 2020, surgiu um boato de que as duas teriam acertado uma parceria na emissora. Gloria desmentiu e chamou a ex-estrela do canal de “excelente atriz”. Na mesma época, houve o rumor de que Regina havia pedido a intermediação de amigos para retornar à Globo pelas mãos da autora. Outra vez, nada foi confirmado.
O talento de Cássia, Humberto e Regina é indiscutível. Lamentavelmente, a polarização política – e o medo de desagradar e polemizar – pode deixá-los fora da TV e até antecipar a aposentadoria. O melhor seria que as diferenças ideológicas fossem amplamente debatidas sem passionalidade. Simplesmente banir um artista não é a melhor atitude para a cultura em uma democracia.