A verdade nua e rua é: antes, a Globo temia perder atores importantes para a Record, que chegou a representar uma leve ameaça à sua liderança na teledramaturgia.
Hoje, diante do resultado negativo das novelas da concorrente e gerando faturamento quase estagnado por conta da situação econômica do Brasil, o canal da família Marinho tomou a decisão de cortar salários e manter vínculo longo apenas com atores indispensáveis.
A não renovação automática de contrato provocou indignação em muitos artistas. Eles descobriram que não eram eternos na Globo e agora precisam bater em outras portas à procura de emprego – ou esperar um convite do ex-contratante para um trabalho por obra específica.
Em entrevista à coluna de Mônica Bergamo na edição de domingo (28) da ‘Folha de S. Paulo’, Maitê Proença lamentou a saída involuntária da emissora carioca.
“Ser demitida é uma tristeza, mas não é algo para discutir no jornal. Eles (Globo) estão no direito deles. Não gosto de entrar num lugar com 20 e ser expelida aos 60. Ninguém gosta disso”, disse.
Após quatro décadas, a atriz deixou de fazer parte do elenco fixo da empresa em dezembro de 2016.
“O cameraman começou junto comigo. A camareira me viu com 20 anos. É um bando de amigos, e isso cria uma rede de proteção, de conforto. É ruim você não fazer mais parte disso. Porque alguém resolveu que você custava caro para a empresa ou qualquer outro motivo”, desabafou a artista.
Menos compreensiva, Carolina Ferraz acionou a Globo na Justiça após não ter o contrato estendido.
A ação exige o reconhecimento de direitos trabalhistas nos 25 anos dedicados ao canal – comenta-se que a atriz pede 5 millhões de reais aos ex-patrões.
Pedro Cardoso foi excluído do quadro de funcionários da TV líder em audiência no País pouco depois do fim do seriado ‘A Grande Família’.
Sem conseguir emplacar um projeto autoral na programação, ele criticou o antigo empregador durante participação no programa ‘Pânico’ na Rádio Jovem Pan: “Tiveram o mais absoluto desprezo pela minha história lá dentro”.
É compreensível que os artistas dispensados se sintam menosprezados e acusem a Globo de ingratidão. Contudo, essa turma precisa compreender a nova realidade da empresa e do mercado.
Até para a poderosa Globo, que movimenta cerca de 15 bilhões de reais por ano, ficou inviável pagar salários a centenas de atores mesmo quando eles estão fora do ar.
Esse ‘chacoalhão’ pode fazer bem à carreira dos sem contrato. Maitê voltou a produzir teatro, Pedro foi atuar numa emissora portuguesa e Carolina investe em vídeos na internet.
A demissão da Globo os obrigou a se reinventar – e isso é positivo ao profissional de qualquer área.
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