No capítulo de quinta-feira (17) da agradável novela das 19h da Globo, ‘Volta por Cima’, o fiscal Jão (Fabrício Boliveira) contou com a ajuda do jovem Jin (Allan Jeon) para impedir um assalto ao ônibus em que estavam.
Jin é um jovem de origem sul-coreana. Ele consegue um emprego numa lanchonete e, com o salário, ajuda a família. Bonito, desperta o interesse de Tati (Bia Santana) que o vê como um galã de K-drama, as românticas novelas coreanas assistidas por milhões de brasileiras.
Na vida real, Allan Jeon é uma celebridade da internet. Possui 2,7 milhões de seguidores no Instagram, onde mostra seu estilo de vida, e outros 9,1 milhões no TikTok, com muitos vídeos de dancinhas.
No novo humorístico ‘Tô Nessa’, exibido após o ‘Fantástico’, Shunji (Pedro Ogata) é um típico garoto tímido conhecendo o primeiro amor. No caso, a nerd Nana (Valentina Bandeira). A conexão ‘fofinha’ e desajeitada entre eles foi um dos melhores momentos do 1º episódio.
Às 18h, em ‘No Rancho Fundo’, a atriz Eloise Yamashita interpreta a secretária Emi. A presença dela, de Jeon e Ogata – apenas 3 entre centenas de atores – ressalta o quanto a teledramaturgia está atrasada na representatividade de brasileiros orientais.
As comunidades de japoneses, coreanos e chineses são numerosas no país, especialmente na cidade de São Paulo, porém, seus descendentes são pouco vistos nas novelas.
Há desinformação e preconceito. Prova disso foi a escalação do ator Luís Melo, sem ascendência asiática, para o papel de um nipônico, Kazuo Tanaka, protagonista de ‘Sol Nascente’, novela de 2016-2017. Na 1ª fase, o personagem foi vivido por um ator de origem japonesa, Daniel Uemura. A Globo recebeu merecidas críticas.
O viral ‘Pé de Chinesa’ também serviu para o debate na web a respeito da falta de oportunidades aos atores orientais. Fotomontagens da novela fake mostravam a atriz Jade Picon e o ex-BBB Davi Brito em trajes típicos da China antiga. Outros famosos de aparência ocidental também ganharam visual que remetia ao país onde se fala mandarim.
Trata-se de yellowfake, ou seja, a prática de um ator usar figurino, maquiagem, gestual e sotaque (geralmente baseado em estereótipo e potencialmente pejorativo) para representar alguém da etnia amarela. Representação indevida assim como a de brancos que pintam o rosto de preto para debochar de negros, o blackface.
Um ator tem o direito de interpretar qualquer personagem. Não devemos limitar a liberdade de expressão na TV, no cinema ou no teatro. Mas precisamos integrar mais os artistas de grupos ainda subvalorizados, como pretos, orientais, indígenas, PcDs, entre outros. Com imensurável poder de influência para mudanças sociais, a televisão precisa espelhar a rica diversidade do povo brasileiro.