Autor de ‘Dona’ escreve peça com romance de rapaz e ex-sogro

​Bissexual assumido, Walcyr Carrasco insere temas da diversidade sexual em novelas e no teatro

6 out 2019 - 15h20

Na novela das 21h da Globo, um empresário mais velho, que manteve um longo casamento de fachada, se revela gay e assume namoro com um jovem com idade de ser seu filho. No palco, um executivo vive caso amoroso secreto com o estudante que foi namorado de sua filha.

As duas tramas, com incontestável semelhança, saíram da mente de Walcyr Carrasco. Em A Dona do Pedaço, ele uniu o construtor musculoso Agno (Malvino Salvador) ao ex-matador convertido faxineiro Leandro (Guilherme Leicam).

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O novelista e dramaturgo Walcyr Carrasco não tem medo da patrulha ideológica ao criar personagens do universo LGBT
O novelista e dramaturgo Walcyr Carrasco não tem medo da patrulha ideológica ao criar personagens do universo LGBT
Foto: Divulgação / TV Globo

Entre atritos, os dois constroem um relacionamento baseado na confiança e no respeito. Leandro não aceita ser “passatempo” e exige fidelidade a Agno. O ricaço, por sua vez, tenta controlar sua compulsão sexual pelos lutadores fortões da academia que frequenta.

Já na peça Jonas e a Baleia, com estreia marcada para terça-feira (8) no Teatro Décio de Almeida Prado, em São Paulo, Carrasco ousa ainda mais ao promover um envolvimento homossexual no seio da tradicional família brasileira.

Amadeu (Dionisio Neto) é bissexual – assim como o autor – e enfrenta as dores e delícias do desejo por Jonas (Pedro Nasser), seu ex-futuro genro. No flat onde ocorrem os encontros sigilosos, eles discutem o relacionamento e suas complicações emocionais e práticas. Mais rodriguiano, impossível.

Dionisio Neto e Pedro Nasser protagonizam o texto a respeito de amor, desejo e conflitos emocionais
Foto: Marcio Del Nero / Divulgação

Coincidentemente, a novela Por Amor, reprisada no Vale a Pena Ver de Novo, apresenta enredo com certa semelhança. Em capítulo da semana passada, Virginia (Angela Vieira) flagrou o marido, Rafael (Odilon Wagner), no apartamento usado por ele para os encontros amorosos com o jovem amante, Alex (Beto Nasci). O folhetim de Manoel Carlos foi exibido originalmente entre 1997 e 1998.

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Dramaturgo profícuo, Walcyr Carrasco gosta de contestar o conservadorismo ligado à heteronormativade em suas obras na TV, no teatro e na literatura. 

Em sua galeria de personagens gays, bissexuais ou transexuais há o vilão tresloucado Félix (Mateus Solano) de Amor à Vida, o booker ‘poc’ Visky (Rainer Cadete) de Verdades Secretas, o médico enrustido Samuel (Eriberto Leão) de O Outro Lado do Paraíso e a trans provadora de bolos Britney (Glamour Garcia) em A Dona do Pedaço, entre outros personagens.

O Brasil vive momento especialmente complicado: ataques ideológicos à classe artística, sugestões de boicote às tramas liberais na TV e aumento da violência contra os LGBTs.

Autores como Walcyr Carrasco dão a cara a tapa a fim de não permitir qualquer tipo de intimidação ou censura. Usam a ficção para retratar a vida como ela é – diversa, complexa e surpreendente.

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Jonas e a Baleia, de Walcyr Carrasco

Com Dionisio Neto e Pedro Nasser

Direção: Lucia Segall

Estreia dia 8. Toda terça às 20h, até 29 de outubro.

Teatro Décio de Almeida Prado – Rua Lopes Neto, 206, Itaim, São Paulo. Mais informações: (11) 3079-3438

Ingresso: R$ 40.

Recomendação: a partir de 18 anos

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