A piada é velha, mas vale a pena ser feita: ‘parece que o jogo virou, não é, querida?’ Em um exercício de imaginação, dá para ouvir o riso debochado de Aguinaldo Silva. O premiado autor de novelas não teve o vínculo com a Globo renovado em 2020, após quatro décadas na casa, mas sem mexer um dedo sequer, o dramaturgo se tornou imprescindível para a sobrevivência da teledramaturgia global.
Com seu talento para criar narrativas curiosas e populares, ele salvou a emissora duas vezes em apenas 12 meses. A abrupta suspensão das gravações de novelas inéditas obrigou o canal a recorrer ao acervo. No ano passado, Fina Estampa entrou no lugar de Amor de Mãe. Em breve, Império sucederá a segunda fase da novela interrompida. Os dois folhetins foram escolhidos por ter ótimo histórico no Ibope.
No ar de março a setembro, a reprise da trama de Griselda ‘Pereirão’ (Lília Cabral) rendeu média de 33.6 pontos de audiência, três pontos a mais do que a primeira fase de Amor de Mãe, que terá a segunda temporada de capítulos inéditos iniciada no próximo dia 15, com a covid-19 incorporada à rotina de Lurdes (Regina Casé) e demais personagens.
O repeteco de Fina Estampa também foi melhor no Ibope do que a atual reapresentação de A Força do Querer, a ser finalizada semana que vem, com média de 29.6 pontos até aqui. Em 2011/2012, na exibição original, a novela da vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni) marcou 39 pontos, elevando em quase 10% a audiência da antecessora Insensato Coração.
O caso de Império é ainda mais favorável a Aguinaldo. Em 2014, a novela Em Família espantou o público da faixa das 21h da Globo. Rejeitada, a trama empacou na média de 30 pontos, índice baixo para os padrões da emissora. A cúpula apostou todas as fichas na história do Comendador José Alfredo (Alexandre Nero). Deu certo. A saga levantou a audiência do horário, fechando com 33 pontos no geral.
Além de ser visto agora como ‘salvador da pátria’ da emissora que o esnobou, Aguinaldo Silva ainda assistiu meses atrás à saída de seu ‘rival’ na TV, Silvio de Abreu. O ex-autor deixou a direção de teledramaturgia da Globo após seis anos controversos na função. Na imprensa, notas atribuíram a ele a decisão de não renovar com Aguinaldo, já que os dois mantinham relação tensa. Essa versão nunca foi confirmada por nenhuma das partes.