O publicitário e roteirista Tony Goes entrevistou o autor de novelas Silvio de Abreu para o canal de YouTube ‘Manual do Tempo’, especializado em temas da maturidade.
Na conversa, o teledramaturgo contou a respeito da estratégia para evitar que o público conservador rejeitasse a homossexualidade de dois personagens de ‘A Próxima Vítima’.
Sucesso na faixa das 21h da Globo em 1995, o folhetim de suspense apresentou os carismáticos Jefferson (Lui Mendes) e Sandrinho (André Gonçalves).
O que parecia ser apenas uma grande amizade se revelou um namoro. Silvio de Abreu foi hábil em surpreender o público e, ao mesmo tempo, amenizar a reação dos homofóbicos.
“Usei um truque para que o preconceito não viesse na frente das qualidades que eles poderiam ou não ter”, conta Silvio. “Mostrei os personagens como bons amigos, bom caráter, boas pessoas, bons filhos.”
Somente no meio da novela a homossexualidade de ambos e o relacionamento às escondidas vieram à tona. “Foi como... ‘Esqueci de contar pra vocês: eles são gays’”, explica. “O público, como já gostava deles, recebeu isso muito bem.”
Ressalte-se: Jefferson e Sandrinho tinham passabilidade, ou seja, aparência e comportamento associados aos heterossexuais. O ‘gay discreto’ é mais aceito na sociedade.
Apesar da aprovação dos telespectadores de ‘A Próxima Vítima’, André Gonçalves, que é hétero, sentiu na pele a dor da intolerância contra os membros da comunidade LGBTQIA+ no Brasil.
“Passei maus bocados por ter feito o Sandrinho. Apanhei, fui perseguido, tomei ovada”, contou no ‘Programa do Porchat’, em 2018. “Tive que andar com segurança por três meses, fui ameaçado de morte, perseguido por um grupo do bairro que eu morava.”
Três anos depois do acolhimento ao casal Jefferson e Sandrinho, Silvio de Abreu sofreu revés com as lésbicas de ‘Torre de Babel’. Apesar de femininas e sofisticadas ao estilo ‘lesbian chic’, elas não conquistaram o público.
A morte de Rafaela (Christiane Torloni) estava prevista na sinopse, mas o autor se viu obrigado a ‘matar’ também a namorada dela, Leila (Silvia Pfeifer), por conta da ruidosa rejeição popular.