Comecei a primeira versão deste texto escrevendo que 'A Fazenda 14' deveria se tornar um reality show esquecível. Apaguei.
Na verdade, será importante relembrar de tempos em tempos a atual edição na expectativa de que não se repita.
Pior do ano em seu gênero, o programa da RecordTV oferece um conteúdo ignóbil que não merece ser chamado de entretenimento.
O nível de agressividade e intolerância na casa — e entre alguns eliminados — ultrapassou o limite do aceitável.
Somente o sádico (no sentido patológico do termo) se diverte sem contestar tamanha baixaria e vulgaridade.
Na quarta-feira (9), o confronto envolvendo o ex-peão Vini e o ex-BBB Hadson numa gravação do 'Celeiro da Justiça' terminou em sangue.
Não chega a surpreender. A maioria de quem ainda está confinado e entre os já eliminados parece disposta a tudo, seja para atacar ou se defender.
A animosidade atingiu um grau preocupante para a saúde mental e a integridade física de todos.
Não sejamos falsamente pudicos: sim, queremos ver barraco. É claro que adoramos testemunhar a rivalidade dos competidores.
Mas nesta 'A Fazenda 14' houve descontrole da situação. Excesso de virulência e escassez de alívio cômico.
A direção da Record preferiu não interferir diretamente. Só agiu em momentos de iminente risco de ferimento entre os brigões.
As expulsões de Tiago e Shayan poderiam ter sido evitadas — e a ausência de ambos enfraqueceu o show — se a emissora tivesse sido mais atuante na prevenção do caos absoluto.
De um lado, o reality reflete a radicalização vista na sociedade brasileira em consequência da guerra ideológica de bolsonaristas/antipetistas contra lulistas/esquerdistas em geral.
Por outro, deveria ser justamente um antídoto contra esse clima hostil. Um escapismo para esquecermos da interminável tensão que vivemos aqui fora.
'A Fazenda 14' falhou em nos alegrar. Ficamos mais raivosos, inflexíveis e perigosamente indiferentes ao sofrimento alheio.
Ah, sim, tamanha confusão no confinamento fez a audiência da edição aumentar. Viva!
Essa é a TV que queremos?