Ao aderir à dinâmica do ‘Big Brother’ e ter a sensação de controlar a vida dos participantes, o telespectador nem se dá conta de que está sendo dominado também.
O formato do programa faz a pessoa acreditar que o futuro dos confinados depende exclusivamente de sua decisão individual.
E assim, iludida, engaja-se nas votações oficiais, gera audiência e faz publicidade espontânea da atração (e seus patrocinadores) nas redes sociais.
O reality show coopta o anônimo que está diante da TV para entrar no jogo – e trabalhar por ele sem ganhar nada.
A recompensa é apenas a adrenalina de ter colaborado para a desgraça de alguns e a vitória de outros.
Ver o competidor odiado ser eliminado no paredão graças ao voto é combustível ao sadismo do público. Quem não sente prazer com a derrota do ‘inimigo’?
Pelo que se vende do formato criado em 1999, na Holanda, o telespectador seria o ‘Grande Irmão’ a observar e manejar a competição.
Personagem este inspirado no vilão de ‘1984’, romance distópico de George Orwell no qual o tal ‘Big Brother’ enxerga as pessoas apenas como peões num tabuleiro, a serviço de seus interesses e suas vontades.
No entanto, a autoridade suprema do reality show é quem produz o programa. No caso da TV brasileira, a Globo.
Afinal, é a emissora quem seleciona os participantes, define (e muda) as regras e edita a versão vista pela maioria dos telespectadores-votantes.
“A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa”, disse o próprio Orwell, ressaltando a influência dos veículos de comunicação e da publicidade sobre a população.
‘Grande Irmã’, a Globo entretém o cidadão comum oferecendo um poder que, na verdade, ele jamais terá.
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