O fim do ‘BBB24’ gera alívio. Acabou a tortura psicológica a quem estava no reality show e também em parte dos telespectadores. Ninguém termina incólume após uma maratona de 99 dias sob pressão.
Espelho da sociedade, o programa ressaltou transtornos emocionais que afetam 1 a cada 4 brasileiros: ansiedade, depressão, pânico, bipolaridade, toc, psicose. Em alguns momentos, o programa parecia uma unidade do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).
Por um lado, foi positivo ver a imprensa destacar a importância dos cuidados com a saúde mental a partir da análise do comportamento alterado de alguns participantes. Exemplos sempre funcionam.
Do outro, houve o risco de banalizar condutas e atitudes diretamente ligadas a distúrbios mentais e, pior ainda, enxergá-las como mero entretenimento. Definitivamente, não é saudável nem ético rir da desgraça alheia.
Nas redes sociais, muitos usuários consideram a recém-encerrada edição do ‘Big Brother Brasil’ como a mais violenta, comparada com a assustadora ‘A Fazenda 14’, onde o caos era tamanho que suscitou o receio de uma tragédia.
A essência dos realities está justamente no sofrimento e no confronto ruidoso. Alimenta-se a espetacularização do desrespeito entre participantes e a expectativa de que algo ruim acontecerá (quanto pior, melhor). O público vibra, os patrocinadores aplaudem a repercussão, a emissora garante faturamento extraordinário.
O sucesso deste formato de programa representa a decadência da televisão aberta, cada vez mais pobre artisticamente por não priorizar qualidade e inovação. Ao público, o saldo é o estresse de quem maratonou o programa – deixando a própria realidade em segundo plano – e a fuga ao streaming daqueles que buscaram algo menos nocivo mentalmente para assistir.