Nos últimos dias, Nego do Borel foi um dos artistas mais citados na imprensa por conta do (falso) beijo gay em seu clipe ‘Me Solta’.
O cantor, que namora a modelo Ju Schiavi, beijou na boca o modelo Jonathan Dobal, integrante do programa ‘Ferdinando Show’, do canal Multishow.
Borel, que se declara heterossexual, fez questão de afirmar que o beijo foi técnico, ou seja, sem língua. A tal cena no clipe gerou diferentes reações na internet.
Houve quem apoiasse a ousadia do funkeiro. No vídeo, ele aparece com roupas femininas e assume a identidade de Nega da Borelli.
Essa personagem, já vista anteriormente, seria a versão ‘viada’ do cantor. “(Ela) representa a liberdade de ser quem eu sou”, disse Nego, em comunicado oficial.
Enquanto a maioria dos fãs interpretou o beijo gay como uma provocação aos homofóbicos do funk, muita gente viu oportunismo e hipocrisia na atitude do artista.
Uma foto de Borel ao lado do presidenciável de direita Jair Bolsonaro, tirada num jantar, foi usada para acusá-lo de apoiar o candidato assumidamente contrário aos direitos dos LGBTIs (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais). O funkeiro carioca se defendeu: afirmou não apoiar o ex-militar.
A verdade incontestável é que o beijo gay fictício funcionou como estratégia de marketing. Nego do Borel conseguiu valiosa publicidade espontânea na mídia.
Até o fechamento deste texto, o clipe teve 11 milhões de visualizações e mais de 100 mil comentários no canal KondZilla do YouTube. Sem a curiosidade suscitada pelo ‘boca a boca’, literalmente, esses números dificilmente seriam atingidos com tanta rapidez.
Não é o primeiro selinho de Borel em outro homem num clipe. Em 2014, ele fez o mesmo gesto de carinho com o MC Frank durante a gravação de ‘Furduncinho’. Na época, não houve alarde.
Na semana passada, foi a vez de Chico Pinheiro protagonizar polêmica semelhante. Na sexta-feira (6), o âncora do ‘Bom Dia Brasil’ postou no Instagram uma foto dando um selinho num amigo. “É hoje o Dia Internacional do Beijo. Viva e deixe viver”, legendou.
“Baitolinha”, “Bichona”, “Franga” e “Toma vergonha” foram alguns dos recados deixados nos comentários do perfil do jornalista de 65 anos e pai de cinco filhos. A um seguidor mais exaltado, ele respondeu: “Estamos no século 21. Beijar um amigo te apavora?”
Chico é o jornalista da Globo que usa as redes sociais com mais liberdade. O registro do inofensivo beijo na boca do amigo ressalta essa autonomia e também sua autoconfiança. Alguém imagina outro apresentador de telejornal fazendo o mesmo?
Mais famosos da emissora já se beijaram da mesma maneira. Em 2015, viralizou o selinho de Galvão Bueno e Pedro Bial nos bastidores de uma gravação para o ‘Jornal Nacional’. “Foi uma brincadeira saudável, carinho entre amigos”, disse o narrador esportivo.
No mesmo ano, Bruno Gagliasso e João Vicente de Castro deram um beijo na boca no palco de uma premiação de TV. “Aos machistas de carteirinha, hipócritas de plantão e preconceituosos, o nosso carinho e nosso amor de homem com H”, escreveu Gagliasso no post da foto.
Beijos entre homens héteros famosos já aconteceram muitas vezes no exterior. Na cerimônia do Oscar, por exemplo, os galãs Javier Bardem e Josh Brolin se beijaram com a intenção de protestar contra o preconceito.
É estranho constatar que, na TV, na internet e na imprensa em geral imagens de violência explícita não agridem a maior parte do público. Contudo, um inócuo selinho pode provocar espanto e irritação