“Boa noite, presidente Lula”, disse Fernando Haddad ao responder o cumprimento de William Bonner e Renata Vasconcellos no início da edição de sexta-feira (14) do Jornal Nacional.
De terno preto e gravata vermelha, o ex-prefeito de São Paulo manteve o característico tom professoral, mas se irritou com recorrentes interrupções e contra-argumentações dos âncoras.
Haddad demonstrou incômodo algumas vezes: “Deixa eu complementar minha resposta”; “Deixa eu te responder”; “Calma, você fez uma longa pergunta, quero fazer uma resposta à altura”; “Você me fez uma pergunta e não tá deixando eu responder”; “Dá licença, Bonner”; “É contraditório o que você está dizendo”.
O apresentador e editor-chefe do JN também se importunou. “Vamos colocar as coisas nos seus devidos lugares”, decretou durante uma contestação.
Em várias ocasiões foi possível ouvir, ainda que incompreensível ao telespectador, a comunicação do switcher, a sala de controle de onde os programas de TV são colocados no ar, com o ponto eletrônico que os âncoras usam no ouvido. Editores costumam ‘soprar’ informações e sugerir perguntas.
Ao corrigir Bonner a respeito de uma afirmação sobre a ex-presidente Dilma, dizendo que ela não é ré em nenhum inquérito, e sim investigada, Fernando Haddad fez uma comparação: “A Rede Globo (também) é investigada”. “Não é essa a questão”, retrucou William.
O petista avançou na estratégia de colocar a Globo contra a Globo. “Você não pode, em função de um indício, condenar. Eu penso, Bonner, que a Rede Globo muitas vezes condena por antecipação”, afirmou o petista. “Não é fato, candidato”, replicou o apresentador, exibindo careta de reprovação. “Como jornalista, o que eu faço é jornalismo. Eu faço perguntas...”
A resposta não convenceu (nem conteve) o “ungido por Lula”, nas palavras de Renata Vasconcellos: “Vocês não tratariam os problemas da Rede Globo como tratam os problemas do PT”. Bonner imediatamente reagiu. “Os problemas da República dizem respeito a uma nação de brasileiros, a milhões e milhões de eleitores.”
O ex-prefeito insistiu no ataque ao canal da família Marinho. “Mas a Rede Globo diz respeito (aos brasileiros), é uma concessão pública.” E foi além: “Nós tivemos problema na Receita Federal com a Rede Globo, e eu não estou antecipando juízo sobre a Rede Globo”.
A citação de Haddad refere-se a uma autuação por sonegação de impostos em 2006, relacionada a uma compra de direitos de transmissão de Copa do Mundo. Na época, Lula estava em seu primeiro mandato e mantinha boas relações com a cúpula da Globo. Posteriormente, o canal disse ter regularizado a pendência financeira. Desde então, o assunto sempre volta à tona.
As perguntas e colocações de Bonner e Renata foram tão detalhadas (algumas com duração acima de 1 minuto), que a entrevista estourou o limite de 27 minutos – no total, o petista teve meia hora de visibilidade no mais visto telejornal do País.
Quando baixou o calor das discussões, Bonner até ironizou, com direito a riso, a própria veemência contra Haddad: “Obrigado por enfrentar as perguntas”, com ênfase na palavra ‘enfrentar’.
No final do JN, Bonner corrigiu uma informação envolvendo o presidenciável petista e a nova pesquisa de intenções de voto encomendada pela Globo e a Folha de S. Paulo.
“Deixa eu fazer uma correção. Agora há pouco, ao divulgar a pesquisa Datafolha, dissemos que o candidato Fernando Haddad, do PT, oscilou de 9% para 13%. Segundo o Datafolha, como o crescimento se deu fora da margem de erro, a frase correta é ‘o candidato Fernando Haddad cresceu de 9% para 13%’. Pelo erro pedimos desculpas”, anunciou o apresentador.
Veja também: