Havia o astro de Hollywood e existia o homem comum. Chadwick Boseman fazia questão de manter sua persona (a máscara criada para interagir em sociedade, de acordo com a psicologia analítica de Jung) separada de sua pessoa real. “Minha vida não é da conta de ninguém”, dizia. “Não quero que o lado pessoal interfira na parte profissional.”
Ele aceitava o rótulo de celebridade, mas não permitia a invasão de privacidade. “Sou um ator e as pessoas me conhecem pelos personagens que interpreto. Têm uma impressão sobre quem eu sou, mas não sabem realmente.” Esse mistério era parte de seu magnetismo.
A autopreservação o induziu a esconder a batalha de quatro anos contra o câncer de cólon. Ele já estava em tratamento quando filmou Pantera Negra. Preferiu padecer de maneira discreta, sem fazer publicidade do sofrimento, sem querer ganhar mais fama a partir de seu drama.
Apesar da visibilidade gigantesca, Boseman mantinha a vida privada distante dos olhos curiosos dos fãs, da bisbilhotice da imprensa e das fofocas nos estúdios de Hollywood. Sério, quase introspectivo, ele impunha uma barreira moral para impedir a banalização em torno da carreira.
Provavelmente quis evitar a superexposição que afetou seu maior ídolo, o pugilista Muhammad Ali (1942-2016), que lutou mais de 30 anos, diante das câmeras, contra os indisfarçáveis efeitos físicos e emocionais do Mal de Parkinson. “Quando eu era criança tinha um pôster dele na minha parede”, contou Chadwick certa vez. “Estimulava a minha mente o tempo todo.”
Na fase final, o ator saiu do completo recolhimento para agradecer as doações a uma campanha lançada por ele para ajudar hospitais em áreas de comunidades negras. No vídeo gravado em sua casa e divulgado no IGTV, ele se deixou ver magro, abatido, com voz fraca. Era perceptível o abalo na saúde, mas ninguém imaginou a doença grave que o mataria em quatro meses.
A precoce saída de cena o fez se tornar ainda mais famoso e admirado. Prova disso é a crescente mobilização em seu perfil no Instagram. Após o post de anúncio de sua morte, o número de seguidores subiu de 7 milhões para 10 milhões. Esse culto póstumo ele não terá como evitar.