A verdade: ninguém aguenta mais assistir à pandemia na TV

Overdose de notícias a respeito da calamidade provocada pelo novo coronavírus abala e entristece

26 mai 2020 - 11h57
(atualizado às 11h59)

Há pelo menos dois meses o telejornalismo brasileiro aborda quase exclusivamente dois assuntos: a crise de saúde provocada pela covid-19 e as polêmicas suscitadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Dia e noite (até nos boletins da madrugada) só se fala disso.

Predominante, o noticiário sobre a pandemia se tornou tristemente repetitivo. Âncoras e repórteres atualizam os números de contaminados e mortos, falam de um pico de contágio que nunca chega e ressaltam o iminente colapso em hospitais.

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Na tentativa de humanizar a frieza das estatísticas, os telejornais contam histórias de vítimas fatais do coronavírus e, com menos frequência, dos curados. Associado a isso, dão rosto e voz a profissionais da frente de combate à covid-19 nas emergências e UTIs. Os depoimentos às vezes chocam, em outras, comovem.

Os âncoras Monalisa Perrone (Expresso CNN), William Waack (Jornal da CNN), Eduardo Oinegue (Jornal da Band), Mariana Godoy (RedeTV News), William Bonner (Jornal Nacional), Rachel Sheherazade (SBT Brasil), Renata Vasconcellos (Jornal Nacional) e Sérgio Aguiar (Jornal da Record): porta-vozes de um turbilhão de notícias alarmantes
Os âncoras Monalisa Perrone (Expresso CNN), William Waack (Jornal da CNN), Eduardo Oinegue (Jornal da Band), Mariana Godoy (RedeTV News), William Bonner (Jornal Nacional), Rachel Sheherazade (SBT Brasil), Renata Vasconcellos (Jornal Nacional) e Sérgio Aguiar (Jornal da Record): porta-vozes de um turbilhão de notícias alarmantes
Foto: Sala de TV

E assim, de domingo a domingo, quem liga a TV parece viver uma realidade surreal semelhante à do filme Feitiço do Tempo (Groundhog Day, 1993), na qual o protagonista está condenado a reviver o mesmo dia, indefinidamente. O telespectador se vê preso em um pesadelo infinito: a pandemia se agrava no País e não há luz no fim do túnel que possa fazê-lo acordar.

Telejornais e demais programas jornalísticos cumprem a missão de informar. Não podem maquiar a verdade trágica com manchetes positivas e agradáveis a fim de aliviar a tensão do público. Mas, em alguns casos, precisam rever o tom excessivamente emocional ou pessimista. Os fatos falam por si: deprimentes e preocupantes. Ninguém precisa dramatizar.

Apesar da previsibilidade das pautas, o brasileiro não demonstra desinteresse. Quase todas as atrações de jornalismo cresceram em audiência. O Jornal Nacional chega a registrar picos acima de 40 pontos. A GloboNews lidera o ranking na TV paga.

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As poucas emissoras que não deram mais espaço às notícias, como o SBT, perderam público; neste caso, a RecordTV assumiu a vice-liderança no ranking. Os bons resultados no Ibope fazem a maioria dos canais continuar com a cobertura prevalecente da catástrofe sanitária que já matou mais de 23 mil pessoas no Brasil.

Psiquiatras e psicólogos sugerem dosar a quantidade de horas diante da TV. Não exagerar no consumo de informações ruins tampouco se alienar a respeito do que acontece. Enquanto os cientistas não lançam uma vacina contra o coronavírus, o equilíbrio é o melhor remédio ao telespectador confinado em casa.

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