Que tombada! Os 99% de votos em Karol Conká, e o pico de 40 pontos no Ibope (cerca de 8,2 milhões de telespectadores somente na Grande São Paulo), representam uma união incomum do brasileiro. Somos um dos povos mais desagregados do planeta, mas a gente facilmente se junta quando é para cancelar ou odiar alguém. Adoramos aglomerar a fim de testemunhar a desgraça dos outros.
O recorde histórico de rejeição ressalta o quanto enxergamos na rapper ‘vilã’ os defeitos que disfarçamos em nós mesmos. Ao invés de corrigirmos o nosso pior lado, preferimos apontar, julgar e condenar as falhas alheias. Viva a hipocrisia! Salve a alienação e o escapismo proporcionados pela TV!
Sim, Conká errou. Erros terríveis. Faltou humanidade. E agora a fatura terá de ser paga. O choque de realidade — carreira em declínio, vida financeira arrasada, filho estressado sob ameaças, aversão coletiva — poderá levá-la a um consultório de psiquiatra, ao consumo de tarja preta, a sessões de terapia.
Especialistas em gestão de crise e recuperação de imagem dizem que a artista vai levar de seis meses a 1 ano para se recuperar na mídia, no cenário musical e nas redes sociais. Mas há quem duvide que tal reabilitação aconteça: as sequelas da participação tumultuada no ‘BBB21’ seriam irreversíveis.
Há de se concordar que Karol Conká cumpriu papel relevante: transformou o repetitivo reality show em assunto nacional na internet, nos botecos, no transporte público, na sala da tradicional família brasileira. Guerra política? Covid-19 e vacinação? Novelas e fofocas sobre famosos? Tudo perdeu peso diante da repercussão tsunâmica do programa.
Deixamos de viver nossa vida para acompanhar a existência televisionada de um grupo de pessoas. Foram apenas 30 dias, menos de 1/3 da duração prevista para o ‘BBB21’. Mas parece que se passaram vários meses... A tão aguardada saída de Karol Conká marca o fim da primeira fase. E que fase turbulenta, emocionante, dramática!
A partir de agora, teremos outro ‘Big Brother Brasil’. Talvez um recomeço. Protagonista absoluta até aqui, a rapper deixa espaço para que outros participantes se mostrem e ocupem tempo maior na edição. Difícil acreditar que alguém lá dentro terá igual destaque. Uma maioria de ‘bonzinhos’ pode gerar monotonia à atração.
Até o mais desatento jogador captou a preferência do público votante. A turma do bem composta por Juliette, Sarah e Gilberto, com a agregada Camilla cada vez mais entrosada, deve manter o apoio popular para conseguir eliminar os ‘inimigos’ Projota e Lumena. Tudo indica que, em breve, teremos uma casa só de amigos. Não vai demorar muito tempo para sentirmos saudade da malvada Conká.