Acabou a frágil trégua entre os ‘inimigos’ Bolsonaro e Globo

Tentativa de boa relação termina após ataque do presidente a Miriam Leitão e nota de repúdio que o chamou de mentiroso no JN

20 jul 2019 - 14h03
(atualizado às 14h09)

O processo de pacificação entre Jair Bolsonaro e o Grupo Globo chegou ao fim na sexta-feira (19), no café da manhã com correspondentes estrangeiros no Palácio do Planalto.

Ao afirmar que Miriam Leitão – comentarista no Bom Dia Brasil e apresentadora na GloboNews – foi presa na época da ditadura quando estava a caminho da Guerrilha do Araguaia e teria mentido sobre a tortura sofrida quando estava grávida, o presidente gerou forte reação do clã Marinho.

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Na edição desta sexta-feira (19) do Jornal Nacional, nota lida por Renata Vasconcellos durante três minutos e meio foi um contra-ataque incisivo.

Os contatos de aproximação do presidente com a Globo estão em risco após novo confronto entre eles
Os contatos de aproximação do presidente com a Globo estão em risco após novo confronto entre eles
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV (Divulgação/Globo e Marcos Côrrea/Presidência da República/Divulgação)

“Essas afirmações do presidente causam profunda indignação e merecem absoluto repúdio. Em defesa da verdade histórica e da honra da jornalista Miriam Leitão, é preciso dizer com todas as letras que não é a jornalista quem mente.”

A cúpula da Globo passou o recado, apesar do eufemismo: chamou Bolsonaro de mentiroso – e ainda o comparou a Lula e Dilma ao ressaltar a defesa que o capitão reformado do Exército sempre faz dos episódios de violência no regime militar (1964-1985).

“É importante ressaltar que Miriam Leitão, ao longo dos governos do Partido dos Trabalhadores, foi também alvo constante de ataques. Não questionaram, como agora, o sofrimento por que passou na ditadura”, disse a âncora do JN.

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Em outro trecho, a emissora aproveitou para reafirmar a própria imparcialidade – tão contestada por políticos e manifestantes de quase todos os tons ideológicos.

“Esses insultos, no passado como agora, em sinais trocados, apenas demonstram a maior das virtudes de Miriam como profissional: a independência em relação a governos, sejam de esquerda ou de direita ou de qualquer tipo. A Globo aplaude essa independência, pedra de toque do jornalismo profissional, e se solidariza com Miriam Leitão.”

O texto certamente teve o aval de William Bonner, apresentador e editor-chefe do principal telejornal do canal líder em audiência. Ele está afastado da bancada para se tratar de uma gripe.

Imediatamente houve alvoroço nas redes sociais: a Globo foi bastante apoiada, e também muito criticada. Defensores e críticos de Bolsonaro se digladiaram mais uma vez.

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O presidente sempre considerou a empresa de comunicação da família Marinho como seu inimigo público número 1. Disse isso, literalmente, em áudio de WhatsApp vazado pelo então ministro Gustavo Bebianno.

Em maio, Bolsonaro chegou a receber o vice-presidente de Relações Institucionais da companhia, Paulo Tonet. Ensaiaram uma relação cordial. Durou pouco.

Esse novo atrito suscitado pela declaração polêmica a respeito de Miriam Leitão ocorre logo depois que a Globo fez uma cobertura positiva da primeira etapa da Reforma da Previdência. Veículos ligados à esquerda chegaram a afirmar que a emissora saiu em defesa dos interesses do governo.

Ainda que tenham relevante apoio de numerosos sites e blogs e nas redes sociais, Jair Bolsonaro e seus ministros não podem desprezar o poder de influência da TV.

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Somente o JN chega a atingir 7 milhões de telespectadores (a maior parte deles, eleitores) na Grande São Paulo. Essa plataforma de divulgação é valiosa a um governante que precisa propagar o que faz e aquilo que ainda pretende fazer pelo País.

O recente episódio pode também azedar a relação do presidente com os jornalistas em geral. No Twitter, o filho 02, vereador Carlos Bolsonaro, manifestou desaprovação sobre os eventos para a imprensa com a presença do pai.

“Por que o Presidente insiste no tal café da manhã semanal com “jornalistas”? Absolutamente tudo que diz é tirado do contexto para prejudicá-lo. Sei exatamente o que acontece e por quem, mas não posso falar nada porque senão é “fogo amigo”. Então tá, né?! O sistema não parará!”

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