No sábado (29), as manifestações contra Jair Bolsonaro sequer foram mencionadas na chamada que antecipa os destaques. A matéria a respeito dos protestos teve 3 minutos.
Uma cobertura correta, porém, burocrática. Desproporcional em relação ao tamanho da mobilização e à repercussão na imprensa on-line. A edição foi comandada por Hélter Duarte e Ana Luiza Guimarães.
Na segunda (31), o ‘JN’ apresentou outro tom, contundente e questionador. O “deboche” do presidente contra os pedidos de impeachment e por mais vacinas foi citado na chamada no início da noite, na escalada (as manchetes na abertura do jornal) e em uma saída para o intervalo.
De volta da folga no fim de semana, o âncora e editor-chefe William Bonner se mostrou incisivo, em explícita reprovação à ironia de Bolsonaro contra os manifestantes. Em áudio reproduzido pelo ‘JN’, o presidente ironiza a “pouca gente na manifestação da esquerda”.
“Mas na verdade as manifestações não foram pequenas”, afirmou Bonner em locução. “Reuniram milhares de pessoas em todos os estados e no Distrito Federal.” A contestação durou 1 minuto e 20 segundos. Na sequência, 3 minutos e 30 segundos dedicados à repercussão dos protestos entre governistas e a oposição.
Nem parecia o mesmo ‘Jornal Nacional’ que 48 horas antes havia poupado Bolsonaro. Ontem, Bonner — a quem o presidente já xingou de “maior canalha” e “sem-vergonha” — parecia especialmente empenhado em rebatê-lo.
Serviu como resposta às incontáveis críticas na internet sobre a cobertura fraca feita pela grande mídia do primeiro ato nacional anti-Bolsonaro desde o início da pandemia. Mera decisão editorial ou tentativa de não promover a esquerda (bastante representada nas ruas)? A conclusão é individual.
O ‘JN’ de ontem ainda teve outras duas matérias negativas ao governo. A primeira sobre a possibilidade de o Brasil sediar a Copa América em meio ao risco iminente de terceira onda da covid-19 no País. Em seguida, reportagem a respeito da reprovação de especialistas em saúde e políticos da realização do evento aqui.
A trégua do ‘JN’ durou pouco. A guerra continua.