Em um velório, a ética se une à etiqueta: quanto maior a discrição, melhor a impressão que se passa. Tal conduta é demonstração de respeito ao morto e solidariedade à família.
Mas, no funeral de celebridades, tornou-se frequente pessoas traídas pelo próprio ego transformarem uma cerimônia lastimosa em show particular de autopromoção.
Aconteceu, infelizmente, durante as quase 24 horas de velório de Gugu Liberato. Vimos alguns artistas mais preocupados em se expor na mídia do que consolar a família do falecido.
Teve personalidade de TV dominada pelo exibicionismo ao exagerar no visual luxuoso, mais adequado a um desfile da São Paulo Fashion Week do que a um velório.
Houve flagrante excesso de comoção de quem parecia interessado em atrair a atenção das dezenas de fotógrafos e repórteres-cinematográficos.
Em entrevistas à imprensa, certos famosos falaram mais de si mesmos do que de Gugu. Nas redes sociais, perfis de determinados artistas postaram links de matérias com suas fotos diante do caixão.
Outros posaram, sorridentes, para selfies com populares, como se fosse uma ocasião festiva. Aliás, o uso de celulares para fotografar e filmar o morto extrapolou o bom senso.
Os excessos nas despedidas a Gugu tornam compreensível a decisão de muitas famílias de artistas de realizar velório fechado, sem acesso de jornalistas e do público.
A cobertura televisiva foi respeitosa. Até os âncoras conhecidos pelo flerte com o sensacionalismo atuaram de maneira correta. Gugu recebeu homenagens merecidas.
O destaque ficou com a Globo: o canal deu amplo espaço para a internação, o velório e o enterro. Passou por cima do esnobismo de sempre e apresentou uma cobertura jornalística acertada.
Já o SBT, berço artístico e casa de Gugu por 30 anos, causou estranhamento ao fazer poucos registros da cerimônia. Mas, como todos sabem, da emissora de Silvio Santos não se pode esperar coerência.
Cobrir a morte de um ídolo é sempre um desafio à imprensa. Qualquer descuido pode resultar em vulgaridade ou enaltecimento excessivo. Desses episódios deve-se aprender outra qualidade compartilhada por éticos e bem-educados: o comedimento.