"A fama que se adquire no mundo não passa de um sopro de vento, que ora vem de uma parte, ora de outra, e assume um nome diferente segundo a direção de onde sopra", refletiu o escritor italiano Dante Alighieri. No caso de William Bonner, o vendaval da fama trouxe credibilidade e descrença, admiração e ojeriza, inveja e desprezo. Depende do olhar de quem o vê, da ideologia daquele que o interpreta.
Ao jornalista, o ônus da popularidade parece mais evidente do que os privilégios inerentes à notoriedade. A superexposição na TV pesa, cobra, confisca, limita, deprime. No Brasil polarizado, ventos o acariciam de um lado e golpeiam do outro. A Bonner cabe buscar o equilíbrio longe do olhar ambíguo do público: nos braços da mulher que ama e o faz se sentir amado.
Fotos da vida privada do âncora e editor-chefe do 'Jornal Nacional' ao lado da fisioterapeuta Natasha Dantas revelam um homem comum em situações corriqueiras. Flagrantes de alegria gratuita sem razão especial. Tem coisa melhor do que sorrir simplesmente por receber um abraço ou um beijo? "Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade", decretou o poeta Carlos Drummond de Andrade.
Antes de se tornar uma das pessoas mais odiadas e atacadas da internet brasileira, Bonner interagia com seus milhões de seguidores no Twitter e Instagram. Exibia o lado cômico com saboroso autodeboche. Era o 'tiozão' da galera. Mas, conforme a hostilidade contra ele aumentou, diminuíram a frequência de posts e a dose de humor. Em agosto de 2019, decidiu abandonar as redes sociais a fim de "viver a vida de verdade", em suas próprias palavras.
O afastamento não garantiu tranquilidade. O apresentador continuou a ser alvo de haters, recebeu ameaças e viu o nome da família ser usado em fraude. O preço da fama — e da infâmia — é alto, às vezes impagável. O homem mais poderoso do telejornalismo brasileiro conheceu a "maldade" no "campo de batalha" que se transformou a web. "Não tem mais graça pra mim", disse. Alvejado, Bonner se viu obrigado a recuar, se privar para ter alguma proteção.
O público às vezes ignora que sob o verniz de celebridade há uma pessoa com fragilidades e dilemas, dores e inseguranças. Um ser humano demasiado humano. Homem ou mulher superexposto e, ao mesmo tempo, fechado em si. Alguém maior do que sua fama, seja boa ou má. As fotos mostram que, longe das câmeras de TV, o esfíngico William Bonner deixa a brisa do romantismo conduzi-lo por aí. Afinal, se fazer feliz continua a ser a melhor opção contra o ódio. A única, talvez.