William Bonner é, indiscutivelmente, o homem mais poderoso do jornalismo brasileiro. Pode ser considerado também o mais polêmico. Não por controvérsias pessoais, e sim pela repercussão de seu trabalho como apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional. Nos últimos 7 dias, ele gerou manchetes curiosas.
Na quarta-feira (29), fez uma crítica direta ao presidente da República. "Bolsonaro disse que as mortes ocorreram mesmo com as medidas decretadas por governadores e prefeitos. É uma afirmação que contraria frontalmente tudo o que afirma a unanimidade das autoridades sanitárias, dos médicos, dos especialistas. Que, se não fosse o isolamento, o número de mortes seria muitas vezes mais alto do que ocorre hoje, muitas vezes. E que o aumento do número de mortes ocorre exatamente neste momento em que muitas pessoas começam a descumprir o isolamento social", comentou o âncora.
Raramente se vê no JN uma colocação tão contundente, mais comum em editoriais. Tal posicionamento produziu manchetes na imprensa e popularizou nas redes sociais o termo 'Jantar Nacional', em referência à nova expressão 'jantar' usada de maneira cômica para dizer que uma pessoa venceu o duelo contra outra, especialmente nos embates político-ideológicos. Na opinião de muitas pessoas, Bonner 'jantou' Bolsonaro ao contestar o presidente por suas declarações contrárias ao isolamento social no combate à pandemia de covid-19.
Naquela mesma edição, o apresentador inspirou memes ao surgir com cara de desconfiança após uma fala nada enfática do ministro da Saúde Nelson Teich sobre a recomendação do distanciamento. "A cara do Bonner não tem preço" e "Esse olhar do Bonner vale por mil palavras" foram frases repetidas em centenas de posts no Twitter.
Um dia depois, o âncora voltou ao noticiário por ter se emocionado com matéria a respeito de uma cantora lírica que se apresenta todo fim de tarde na janela de seu apartamento, no Rio, a fim de atenuar a ansiedade e a melancolia dos vizinhos. Quando a imagem voltou para o estúdio, Renata Vasconcellos 'entregou' o colega de bancada: "O Bonner ficou emocionado". Tentando disfarçar os olhos marejados, o apresentador brincou com a situação. "Não, eu não. Quase não me emociono", ironizou. Renata, então, fez o encerramento do telejornal. A internet se surpreendeu ao testemunhar a sensibilidade do homem-forte do jornalismo da Globo.
Na sexta-feira (1), Bonner foi involuntariamente envolvido em mais um episódio midiático. Durante live, o cantor Eduardo Costa comentou com o convidado, o também sertanejo Leonardo, que o apresentador do JN estava assistindo à apresentação dos dois. "O melhor jornalista do Brasil", elogiou Costa. "Melhor? Melhor onde?", retrucou Leonardo. "Um dos melhores", corrigiu o anfitrião. "É, aí até que vai", concordou o intérprete de Pense em Mim. A web reagiu eufórica à desaprovação de Leonardo a Bonner. Uma dúvida ficou no ar: era realmente o âncora da TV entre os espectadores ou um perfil fake? O jornalista não comentou a saia justa.
Na segunda-feira (4), Bonner voltou a ficar em evidência em vários sites de notícias. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disparou comentário irônico ao final de uma coletiva de imprensa. "Vocês viram que eu tirei a máscara, vou jogar essa fora e vou pegar outra máscara pela orientação do doutor William Bonner", informou, com riso de deboche. Ele reagiu a uma observação feita no Jornal Nacional na semana passada. "O deputado Rodrigo Maia estava usando a máscara de um jeito completamente errado. Não pode botar a máscara abaixo da boca, no queixo", disse o apresentador na ocasião.
A cobertura da pandemia causada pelo novo coronavírus e as provocações quase diárias lançadas por Jair Bolsonaro impulsionaram a visibilidade de William Bonner. O JN cresceu em audiência — alcançou picos acima de 40 pontos em algumas edições — e ganhou duração estendida. Já chegou a terminar às 22h, após 1 hora e 30 minutos de notícias.
Com tamanho poder em mãos, Bonner divide opiniões: há quem o considere um defensor da liberdade de expressão e do progressismo; enquanto outra parcela do público reprova o que classifica de jornalismo tendencioso e manipulador, liderado por ele. Para um jornalista, não ser unanimidade é mérito.