Seria injusto reduzir a história de vida de Vanusa a seu relacionamento com Antônio Marcos. Mas o romance foi tão intenso e surpreendente - acompanhado dia a dia pela imprensa e testemunhado pelos fãs - que alguns episódios merecem ser contados. A cantora nunca se recusou a falar a respeito. Parecia até gostar de rememorar diante das câmeras de TV as emoções vividas ao lado de seu primeiro amor.
Em 2003, Vanusa apresentou o programa 'Assunto de Mulher' na TV Diário, no Ceará. Em um depoimento ‘olho no olho’ com o telespectador, fez revelações sobre a união. “Antônio Marcos, todo mundo sabe, era alcoólatra. Enquanto alcoólatra, jamais me agrediu com palavras, com gestos. Era um gentleman, mandava flores”, disse.
"Chegava tarde em casa e eu, brava, deitada na cama, esperando ele botar a cara no quarto para começar a brigar. Ele mostrava um buquê de flores primeiro, aí botava a cara e falava: ‘Me perdoa’. Não tinha como não amar Antônio Marcos”, contou, rindo. “E não tem como esquecer Antônio Marcos".
Anos depois dessa lembrança, Vanusa concedeu uma entrevista ao jornalista Leão Lobo na CNT. Narrou o exato momento no qual aconteceu a separação. O casal estava em casa, à mesa do café da manhã, quando a filha mais velha, Amanda, então com quatro anos, comentou que na escola os coleguinhas diziam que o pai dela era bêbado.
Vanusa pediu que a babá tirasse do ambiente a menina e também a caçula, Aretha, ainda bebê. Foi quando houve a conversa definitiva. A cantora reproduziu o que disse. "Antônio Marcos, é o seguinte, agora você vai ter que escolher: ou a bebida ou a sua família. Viu o que aconteceu? Daqui para frente será pior para elas".
Antônio Marcos estava bebendo whisky. “Ele pegou a garrafa, tomou um gole e falou: ‘Eu nunca vou parar de beber’. Eu disse: ‘Então presta atenção que só vou dizer uma vez: levanta e sai’. Ele ficou passado. ‘Levanta e sai’, e fui aumentando o tom de voz. E saiu e foi embora. Mas, na minha cabeça, era um amor tão grande, filhas maravilhosas, ‘ele vai parar de beber e vai voltar’. Ele nunca parou de beber e nunca pediu para voltar.”
No mesmo programa, Vanusa lembrou a reação ao constatar, tempos depois, que o cantor tinha começado outro relacionamento. “Quando eu vi ele e a Débora Duarte na capa da revista ‘Amiga’, chorei três dias debaixo do meu edredom.” Vanusa disse ter tido contato amistoso com outras companheiras de Antônio Marcos, mas não com a atriz com quem ele teve a filha Paloma Duarte.
O clima frio entre as duas se manteve até no velório do cantor. “Eu estava do lado do caixão, ela chegou, deu um beijo nele, nem olhou na minha cara e foi embora”, relatou a Leão Lobo. A estrela da música fez questão de dizer que sempre achou Débora Duarte “uma atriz maravilhosa”.
Nos anos em que foi casada com Antônio Marcos, a artista fez novelas de sucesso, como ‘Anjo Mau’ (Globo, 1976), ‘O Profeta’ (Tupi, 1977) e ‘Coração Alado’ (Globo, 1980). Ela sempre evitou comentar sua vida privada na mídia. Hoje com 70 anos, Débora Duarte foi vista no ano passado na série do GNT ‘Vítimas Digitais’.
Quando morreu, aos 46 anos, em abril de 1992, o intérprete das inesquecíveis ‘Como Vai Você’ e ‘O Homem de Nazareth’ deixou muitas viúvas. Em 2016, quando foi entrevistada por Gugu Liberato na RecordTV, Vanusa declarou que ele foi o homem que mais amou. A cantora morreu no dia 8 de novembro, de insuficiência respiratória. Tinha 73 anos e morava em uma casa de repouso.
Os últimos anos de Vanusa giraram em torno dos cuidados com a saúde física e mental. Sofreu os efeitos de uma doença degenerativa que produziu sinais de demência e períodos de grave depressão. Quem possui alguma cultura musical vai lembrar dela como uma grande artista. Usou sua voz poderosa em canções emocionantes, a exemplo de ‘Manhãs de Setembro’.
Os críticos de música a consideram genial por ter ousado na escolha de repertório (com mensagens relevantes), na fluidez por diferentes estilos e na maneira de cantar, sempre intensa. Destemida e autêntica, Vanusa lutou publicamente contra o machismo e a violência doméstica. Defendeu os gays e as travestis na época de pior repressão. Feliz e infeliz, viveu como quis. Aplausos eternos.