Com fama de durona, Silvye Alves, apresentadora do ‘Cidade Alerta’ na RecordTV Goiás, desabou em lágrimas ao acompanhar um vídeo exibido em seu programa. Nele, um músico de 20 anos, Rafael Borges, toca violino a poucos passos da cova onde o corpo da mãe, vítima de covid-19 aos 46 anos, será sepultado. Após terminar a música, o rapaz se ajoelha perto do caixão e cai no choro. É possível ouvir o lamento de outras pessoas que acompanham o enterro.
Quando ressurgiu na tela, Silvye tentou segurar a emoção. “Imagem é tudo, né? A gente não precisa falar em cima da emoção das pessoas. Mas a gente sabe o quanto está todo mundo sofrendo nesse momento”, disse, e começou a ficar com a voz embargada.
“Foi difícil”, completou, já chorando. “Ai, eu falei que não ia dar conta... A gente sofre... Ai, Senhor... As pessoas acham que a gente é de ferro, mas a gente não é. Não aguento mais ver gente pedindo UTI pra gente.”
O relato das solicitações de ajuda continuou: “Quem sou eu? Quem é o Oloares (Ferreira, apresentador do ‘Balanço Geral Goiás’) Quem são os apresentadores? A gente não consegue, nem dinheiro para isso a gente tem. Enfim, me perdoem a emoção”.
Depois do programa, Silvye Alves se manifestou no Instagram. “Meu coração foi consumido! Hoje achei que não conseguiria terminar o jornal... Uma cena tão forte me derrubou, eu não aguentei... As lágrimas contidas nesse um ano de pandemia foram arrancadas p fora... Dói demais sentir a dor dos outros!”, diz trecho do desabafo postado na rede social.
As imagens de caos nos hospitais e drama nos velórios e enterros têm afetado vários apresentadores. A regra de que o jornalista de TV deve evitar se comover não se aplica mais. O eventual choro dos profissionais de imprensa faz parte da humanização da mídia imposta pela pandemia.
O jornalismo é feito por pessoas, sobre pessoas, para pessoas. Mais humano, impossível. Histórias como a do jovem Rafael, que realizou o desejo da mãe de ser enterrada ao som de uma canção tocada por ele, precisam ser contadas porque ressaltam que as vítimas da covid-19 não são estatísticas.
Trata-se de gente como a gente. Homens e mulheres que tinham sonhos, medos, qualidades, defeitos, superações, amores. Nessa calamidade que parece não ter fim, a empatia nos aproxima pela dor: o próximo a sucumbir de tristeza pode ser qualquer um de nós.