Na edição de terça-feira (23), dia do novo recorde de mortes em 24 horas, com mais de 3000 vidas perdidas, William Bonner surgiu de terno preto e gravata roxa e Renata Vasconcellos vestiu camisa preta. As duas cores são associadas ao luto.
A primeira matéria, da repórter Delis Ortiz — a mesma que gerou manchetes ao presentear Jair Bolsonaro com uma Bíblia em evento no Palácio do Planalto — contestou a fala do presidente no pronunciamento em cadeia de rádio e TV exibido minutos antes.
Enquanto Bolsonaro pintou cenário otimista a respeito da compra de vacinas e garantiu imunização rápida da população, o ‘JN’ informou sobre a redução do número inicialmente previsto de doses a serem distribuídas pelo Ministério da Saúde em abril.
“Os estados pedem socorro”, informou a reportagem. A narração destacou uma nota da Confederação Nacional de Municípios que pede ao presidente para que “assuma, de forma inadiável, seu dever de coordenar a nação”.
“Enquanto faltam vacinas, oxigênio hospitalar, medicamentos essenciais para o enfrentamento da pandemia, sobra estoque de remédios sem comprovação científica, indicados e distribuídos pelo governo”, disse a repórter em sua aparição no vídeo.
No final da edição, os âncoras questionaram trechos do pronunciamento de Bolsonaro. “Ao longo desses 12 meses de pandemia, os brasileiros viram o presidente pôr em dúvida a eficácia da vacina do Butantan, que chamava de vacina chinesa”, afirmou Renata. “Mas no discurso de hoje, Bolsonaro disse que sempre foi a favor das vacinas.”
“O presidente também se notabilizou por provocar aglomerações e desprezar o uso de máscaras, mas hoje, afirmou que sempre fez tudo para combater a pandemia”, provocou Bonner, visivelmente contrariado.
Após uma pausa, ele prosseguiu. “O presidente não mencionou a sexta diminuição do número de doses de imunizantes divulgada hoje mesmo pelo Ministério da Saúde. Ao contrário, ele disse que as vacinas estão garantidas.” Houve sarcasmo na entonação do âncora e editor-chefe do ‘JN’.
“O presidente se solidarizou com as famílias das vítimas e, numa mudança radical de tom, finalmente defendeu a vacinação em massa”, complementou Renata. Após exibição de trecho de 1 minuto e 5 segundos do pronunciamento de Bolsonaro, no qual assegurou que o governo vai providenciar 500 milhões de vacinas até o fim do ano, Bonner ressurgiu no vídeo com expressão de desconfiança.
Fazia tempo que Bonner e Renata não verbalizavam críticas a Bolsonaro diretamente para a câmera. O apresentador seguiu anunciando a ocorrência de panelaços em 16 capitais, nas cinco regiões do País, durante o pronunciamento do presidente. A colagem de imagens dos protestos teve exatos 60 segundos.