Na segunda-feira (18), o ‘Jornal Nacional’ surpreendeu ao exibir imagens de Jair Bolsonaro falando sobre a CoronaVac e o tratamento precoce (sem confirmação científica) da covid-19. Os vídeos foram tirados de redes sociais do filho Zero Dois do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Fazia vários dias que o telejornal de maior audiência do País buscava alternativas para noticiar sobre o chefe do Executivo sem mostrá-lo. Foi assim, por exemplo, quando ele comentou a marca de 200 mil brasileiros mortos pelo novo coronavírus em uma live.
Em vários outros momentos, ao invés de levar ao ar a imagem do presidente a partir de gravações disponíveis na internet ou feitas por outras emissoras, o ‘JN’ reproduziu declarações dele com transcrições na tela, às vezes ao lado de uma foto. A voz também não foi aproveitada. A narração coube a repórteres ou aos âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos. Decisão editorial ou boicote?
Em post de 6 de janeiro (‘JN’ pega leve com Bolsonaro; GloboNews questiona reeleição), este blog apontou possível explicação para a pouca visibilidade ao presidente no ‘JN’: “Essa cobertura tímida do ‘Jornal Nacional’ é uma estratégia para não dar publicidade excessiva a Bolsonaro. Em outras ocasiões, o telejornal também optou não mostrar o presidente — apenas relatou o ocorrido por meio de ‘nota seca’ (notícia lida pelo apresentador, sem imagem, foto ou ilustração). Recurso usado quando uma emissora não quer usar material de concorrentes ou pretende dar menos ‘cartaz’ a uma pessoa, marca, instituição ou ideologia”.
Esse ‘sumiço’ do presidente no ‘Jornal Nacional’ coincide com o recrudescimento dos ataques dele contra a Globo e Bonner. Sem se importar com a liturgia do cargo, Bolsonaro frequentemente dispara xingamentos e acusações. Já classificou o canal de “TV Funerária”, insinuou que membros da família Marinho usaram esquema ilegal de câmbio do doleiro Dario Messer e chamou Bonner de “sem-vergonha” e “maior canalha”.
Em seu primeiro ano de mandato, Bolsonaro cumpriu a promessa de reduzir verba publicitária do governo à Globo. Na comparação de 2019 com 2018 (último ano sob a gestão de Michel Temer), a emissora perdeu 60% de participação no investimento da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência).
Outra promessa se refere ao processo de renovação da concessão da TV, a ser realizado em 2022. Mais de uma vez, o presidente insinuou que será rigoroso na avaliação. “Se não estiver tudo certo, não renovo”, disse em abril do ano passado. Na prática, a suspensão ou cassação da licença de um canal depende de autorização de dois quintos do Congresso, onde há vários parlamentares que são donos de emissoras e retransmissoras, inclusive da Globo.