Atacada, atriz critica política agressiva e censura a atores

​Fernanda Montenegro diz na Globo que a classe artística tem sido injustamente demonizada pelo governo Bolsonaro

4 out 2019 - 09h22
(atualizado às 09h23)

No dia 16, Fernanda Montenegro completará 90 anos. A grande dama do teatro e do cinema enfrenta raro momento de contestação pública em sua longa trajetória.

Ela virou alvo do diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Roberto Alvim, apoiador do presidente Jair Bolsonaro. O dramaturgo, que declarou ter sido fã da atriz, a chamou de “sórdida” e “mentirosa”.

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Fernanda Montenegro condena a política agressiva e as “ripas” contra a classe artística
Fernanda Montenegro condena a política agressiva e as “ripas” contra a classe artística
Foto: Fábio Rocha/TV Globo / Divulgação

O motivo da fúria verbal foi uma foto na qual Fernanda Montenegro aparece como bruxa amarrada sobre uma fogueira de livros na revista literária ‘Quatro Cinco Um’.

A inspiração da imagem veio do ataque às mulheres medievais pensantes, vistas como feiticeiras, e do romance distópico ‘Fahrenheit 451’ (daí o título da publicação), lançado por Ray Bradbury em 1953, a respeito de uma sociedade com governo ditatorial que proíbe os cidadãos de ter livros a fim de manipulá-los.

Enquanto Alvim afirma que os artistas de direita, como ele, são vítimas de intolerância, Montenegro critica os ataques bolsonaristas contra a classe artística – predominantemente de esquerda.

“Nossa política às vezes é tão agressiva, ligada a uma censura ideológica, política, religiosa”, declarou a atriz no Conversa com Bial, na madrugada desta sexta-feira (4).

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“A censura maior está na cultura das artes porque (certos políticos) têm medo da liberdade de expressão. Sem liberdade de expressão não há arte nenhuma. Nada, nada, nada.”

Ainda no bate-papo com Pedro Bial, Fernanda Montenegro rechaçou as acusações genéricas de que artistas usam indevidamente as verbas governamentais de incentivo à produção cultural.

“O ator é tão poderoso que, quando há crise na cultura, ele leva sempre a culpa. Nessa crise da Lei Rouanet, sobrou para nós, atores. A ripa é no ator, na atriz.”

Bolsonaro demonstra cumprir uma cruzada particular contra a política de incentivos fiscais que possibilita empresas (pessoas jurídicas) e cidadãos (pessoas físicas) aplicarem parte do imposto de renda devido em ações culturais.

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Durante transmissão ao vivo no Facebook, em abril deste ano, o presidente chamou a Lei Rouanet de “desgraça” ao afirmar que o recurso foi usado para “cooptar a classe artística e pessoas famosas” com o objetivo de defender governos de esquerda na mídia.

Em momento mais descontraído do talk show, Fernanda Montenegro comentou a respeito de sua lucidez. “Herdei a sorte de não estar gagá.”

Em comemoração às nove décadas de vida, a atriz acaba de lançar o livro de memórias ‘Prólogo, Ato, Epílogo’ (Companhia das Letras), escrito pela jornalista e dramaturga Marta Góes.

Na TV, a atriz atua desde 1951, quando estreou em teleteatros da TV Tupi Rio. Desde 1981 participa de novelas e minisséries na Globo.

Em 2013, ela venceu o Emmy Internacional pelo especial de fim de ano (depois transformado em série) Doce de Mãe.

Sua aparição mais recente foi na primeira fase de A Dona do Pedaço, no papel da matriarca de matadores Dulce.

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