O vazamento do áudio de uma conversa de Neymar Jr. com 'parças' poderá custar caro — literalmente — ao craque do Paris Saint-Germain. A divulgação dos comentários depreciativos e das ameaças hipotéticas ao gamer Tiago Ramos, namorado da mãe do atleta, Nadine Gonçalves, geraram repercussão na mídia e forte reação de militantes LGBTs.
Na gravação com observações a respeito de uma briga entre Tiago e Nadine, Neymar chama o rapaz de "viadinho" que "dá o c* do c***lho". Amigos do atacante sugerem agredir Tiago. "Vamos matar, enfiar um cabo de vassoura no c* dele", diz um participante da comunicação em grupo. "Matar, não, só tirar uma onda", intervém outro.
O ativista gay Agripino Magalhães acionou o advogado Angelo Carbone para denunciar Neymar e seus amigos ao Ministério Público de SP. De acordo com ambos, será solicitada a apuração do crime de homofobia a partir do áudio. "Muitas pessoas são homofóbicas, transfóbicas, racistas e gordofóbicas e escondem esses preconceitos para estar bem na mídia, não perder amigos", afirma Agripino.
"Em relação ao Neymar, que sempre apareceu ao lado de gays, foi uma decepção. Ele se diz amigo dos LGBTs, mas, entre amigos héteros, ofende quem é homossexual ou bissexual." O militante acredita que Neymar deveria liderar ativismo contra qualquer tipo de preconceito. "Ele faz parte de uma geração com cabeça aberta e de um grupo que sempre sofreu discriminação, que são os jogadores de futebol, tantas vezes alvo de racismo nos estádios."
Em junho de 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) admitiu a criminalização de homofobia e transfobia em equivalência ao crime de racismo. Segundo a corte máxima do País, praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito em razão da orientação sexual da pessoa se tornou ilegal. A pena será de um a três anos, além de multa. A propagação de ato homofóbico em meios de comunicação, com redes sociais, pode elevar a pena a cinco anos.
Famoso por aparições em programas de TV para debater casos jurídicos, Dr. Angelo Carbone pretende ajuizar ação indenizatória. "Será pedida indenização de dois milhões de reais em benefício de uma ONG que trata e orienta pessoas ameaçadas, humilhadas e maltratadas por homofóbicos", explica. "Neymar não ofendeu só uma pessoa, ele insultou todos os LGBTs. Minorias, como os gays, não podem ser menosprezadas por pessoas insensatas."
Trabalhando 'pro bono' (voluntariamente, sem cobrança de honorários) em vários processos em defesa de mulheres, crianças e idosos, Dr. Carbone defende punição exemplar para que não haja estímulo à violência. "No áudio, um deles diz 'vamos matar' e o outro fala 'vamos tirar uma onda' com o rapaz. São ameaças graves", explica o advogado.