Quem tem mais de 30 anos certamente lembra da febre do 0900 na TV aberta na década de 1990. A ligação de baixo custo servia para concorrer a prêmios e participar de sorteios.
Esse mecanismo ao estilo 'sorte ou azar' fazia os telespectadores experimentarem adrenalina semelhante à de um jogador de cassino. As emissoras faturavam milhões com o caça-níquel televisivo. A festa acabou em 1998. O formato foi proibido por ser considerado prejudicial ao bem-estar financeiro dos telespectadores. Muita gente se viciava no 0900.
Uma decisão recente de Jair Bolsonaro poderá ressuscitar esse chamariz. Ele assinou uma Medida Provisória liberando as promoções e sorteios na TV a partir de ligações cobradas. O Congresso tem até o início de julho para votar a MP a fim de torná-la lei efetiva.
A possível volta desse tipo de atração com potencial de faturamento alto a custo baixo deverá beneficiar várias emissoras que enfrentam problemas financeiros. A começar pela RedeTV.
Antes de fundar o canal paulista a partir da concessão da extinta TV Manchete, o empresário Amilcare Dallevo Jr., sócio de Marcelo de Carvalho, dominava o sistema de telefonia em programas que promoviam votações e sorteios. Ele construiu fortuna com essa tecnologia. Prestou serviços inclusive para a Globo.
As Top 5 da TV aberta — Globo, RecordTV, SBT, Band e RedeTV! — enfrentam dificuldade para pagar os custos, investir e ter algum lucro. Todas promoveram demissões recentemente e cortaram gastos.
A ordem em comum é enxugar a folha de pagamento, exigir mais produtividade dos funcionários preservados (dos anônimos às celebridades do vídeo) e providenciar novas fontes de renda.
A reativação do 0900 aponta entrada de dinheiro rápido. Pode gerar benefício extra: segurar o público diante da TV. Afinal, quem liga para 'apostar' ficará ligado nos programas a fim de conferir o resultado das promoções e dos sorteios.
Se ratificado pelo Congresso, esse pode ser um presentão de Bolsonaro aos canais simpatizantes ao seu governo, como RecordTV, SBT e RedeTV!, e também aos mais críticos, a exemplo de Globo e Band.
Mais dinheiro em caixa é tudo o que desejam (e precisam) as emissoras financeiramente fragilizadas por conta da queda de publicidade em consequência da pandemia de covid-19.