“Como lidar com isso?”, se autoquestionou o transexual Ivan (Carol Duarte) ao descobrir sua gravidez, no capítulo de sexta-feira (29) de ‘A Força do Querer’.
A mesma pergunta deve ter passado pela cabeça de milhões de telespectadores. Afinal, é necessário redobrar as sinapses para compreender uma moça que vira rapaz e agora vai se tornar mãe, ou melhor, pai.
É a primeira vez, em 67 anos de teledramaturgia brasileira, que o telespectador vê em sua tela um trans homem grávido.
E, apesar da onda de intolerância que varre o País, as reações são muito mais positivas do que condenatórias.
Não se detecta protestos ruidosos como foi visto recentemente em outras novelas com personagens fora da heteronormatividade.
Ivana/Ivan entra para a história da nossa televisão como um ícone da diversidade e contra a transfobia.
A autoria Gloria Perez dá relevante contribuição para que o público leigo entenda e, consequentemente, respeite a variedade de gênero e identidade sexual.
O Brasil, mundialmente conhecido e admirado por sua miscigenação racial e cultural, é o País que mais mata LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros): um a cada 25 horas.
De acordo com levantamento da ONG Transgender Europe, entre 2008 e 2016, 868 travestis e transexuais perderam a vida aqui devido ao preconceito.
A exposição em horário nobre da TV daquilo que um trans sofre – do conflito interno à violência nas ruas – ajuda na discussão desse problema vergonhoso da sociedade brasileira.
Não se espera que ninguém aprove a transexualidade. Basta compreendê-la e respeitar aqueles nesta condição. A novela desempenha um papel educador que é pouco executado pelo Estado.
No final do capítulo de sexta, Ivan comunicou à família: “estou grávido”. Assombro geral no clã Garcia.
Em casa, a tradicional família brasileira acompanha com atenção mais uma virada surpreendente na trama do transexual que conquistou o apoio da maioria dos telespectadores.