Na terça-feira (6), em conversa com apoiadores diante do Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro citou a ‘inimiga’ Globo em declaração controversa. “Eu resolvo o problema do vírus em poucos minutos. É só pegar o que os governos pagavam no passado para a Globo, para a ‘Folha’, ‘Estado de S. Paulo’. Esse dinheiro não é para a imprensa. Esse dinheiro era pra outras coisas”, disse.
O presidente cumpriu a promessa de campanha de reduzir a publicidade estatal na emissora da família Marinho. O corte foi de 60%. Do primeiro mandato de Lula, iniciado em 2003, até o final da Presidência de Michel Temer, em 2018, a Globo faturou em média R$ 400 milhões por ano com verbas ligadas ao governo federal.
Muito dinheiro, certamente, mas tal quantia representou apenas de 4% a 5% do faturamento médio da emissora em anos recentes. Sob a gestão de Bolsonaro, o investimento federal em espaços nos intervalos do canal caiu para R$ 150 milhões por ano.
Em tempos de retração do mercado publicitário e suspensão de patrocínios de grandes eventos televisivos por conta da pandemia de covid-19, essa queda no faturamento faz falta, obviamente, mas não vai gerar a falência da Globo, como muitos apoiadores do presidente previam - a empresa tem R$ 13,6 bilhões em caixa.
Será que Jair Bolsonaro acabaria com o coronavírus no Brasil somente com o dinheiro público destinado ao canal? Os R$ 250 milhões de economia por ano com o corte de verba à Globo compram cerca de 4,3 milhões de vacinas CoronaVac, considerando o valor de R$ 58 por dose cobrado pelo Instituto Butantan no primeiro contrato com o governo federal.
Como cada pessoa precisa de duas doses, seriam imunizados 2,1 milhões de brasileiros, ou seja, 1% da população. Índice insuficiente para controlar a onda de contaminados e mortes. Aplicando a média do atual corte de verba à Globo nos últimos 18 anos, desde o começo da era Lula, a quantia economizada serviria para comprar vacinas para menos de 20% da população.
Para vacinar 100% do País com duas doses da CoronaVac, o governo de Bolsonaro precisaria de R$ 24,5 bilhões, ou seja, 60 vezes o que os três presidentes anteriores investiram por ano em publicidade na Globo.