O ‘inimigo’ amoleceu? Considerado por Jair Bolsonaro como maior adversário na grande mídia, o Grupo Globo fez cobertura ‘soft’ dos protestos contra o presidente no sábado (29).
Apesar da mobilização de milhares de pessoas em dezenas de cidades nos quatro cantos do País, o ‘JN’ nem citou as manifestações em uma das chamadas do telejornal feita pela âncora Ana Luiza Guimarães.
Na edição, a matéria sobre os eventos teve 3 minutos de duração. Cobertura tímida na comparação com o espaço dado a protestos pró e contra Bolsonaro em 2019, 2020 e nos últimos meses.
No domingo, o ‘Fantástico’ focou nas ações policiais que deixaram várias pessoas feridas. Ficou em segundo plano o contexto político dos maiores atos populares dos primeiros cinco meses de 2021.
Principal jornal do grupo, ‘O Globo’ virou alvo de crítica e deboche nas redes sociais e em alguns blogs de notícias por resumir os atos anti-Bolsonaro em chamada secundária de apenas cinco linhas na primeira página.
“Eu não assisto à Globo”, disse Bolsonaro algumas vezes. Caso tivesse uma “recaída” e espiasse o canal no fim de semana, o presidente certamente iria rir de satisfação e alívio ao constatar o quanto foi poupado.
Assim como deve ter se entusiasmado, dias atrás, ao saber que o ‘Jornal Nacional’ ignorou pesquisa do Datafolha que trouxe Lula liderando as intenções de votos na eleição presidencial de 2022.
O levantamento destacado em telejornais de outras emissoras foi o primeiro desde que o STF tornou o petista novamente elegível.
Nos últimos tempos, nota-se que o jornalismo do Grupo Globo está ‘pegando leve’ com Bolsonaro. Várias notícias negativas à imagem do presidente foram desdenhadas ou receberam pouco destaque em veículos da empresa do clã Marinho.
Após ‘bater duro’ no chefe do Executivo por muito tempo, o ‘JN’ dá menos visibilidade a ele. Pode ser um reajuste na linha editorial ou reflexo do clima de campanha antecipada que já toma conta da imprensa.
A cúpula de Brasília não tira os olhos dos telejornais da influente Globo. Manchetes positivas ou negativas, e eventuais omissões, interferem instantaneamente na imagem de políticos e partidos e nos planos de poder de quem decide os rumos do País.
Duramente criticada da direita à esquerda, por Bolsonaro e Lula, o jornalismo do Grupo Globo terá o desafio de provar sua imparcialidade e isenção ao cobrir a movimentação política que vai culminar no resultado das urnas em outubro do ano que vem.