No domingo, 10, ao parar na entrada do Hotel de Trânsito do Forte dos Andradas, ocupado por militares, no Guarujá (SP), Jair Bolsonaro (sem partido) conversou com apoiadores no cercadinho e, surpreendentemente, decidiu atender a imprensa de plantão no local. Falou por 1h15, de pé, sob baixa temperatura.
Diante do presidente havia equipes de 3 emissoras: CNN Brasil, SBT e TV Tribuna, afiliada da Globo na Baixada Santista e no Vale do Ribeiro. “Eu raramente converso com vocês porque deturpam”, afirmou.
Calmo, ele se defendeu das críticas sobre a gestão governamental da pandemia de covid-19, a instabilidade econômica, a alta dos combustíveis e o polêmico veto ao projeto de distribuição gratuita de absorventes íntimos.
Ao comentar a contaminação pelo coronavírus do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ironizou o médico que era titular da pasta no início da crise sanitária. “O Mandetta é o garoto propaganda da Globo, o marqueteiro da Globo”, disparou.
O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (União Brasil-MS) deixou o governo em abril de 2020 em consequência dos atritos com o presidente. No momento, atua nos bastidores da política para integrar a chapa da Terceira Via na eleição do ano que vem.
Bolsonaro usou a oportunidade para provocar os grandes veículos de comunicação que mais o contestam. “O que é fake news? Aquilo que a imprensa não diz? Tudo é fake news... Com todo respeito, quem é mais fake news do que a Globo, a ‘Folha’, o ‘Estado’, o ‘Antagonista’?”, disse.
Sempre na defensiva, o presidente atacou o trabalho da CPI da Covid. “Querem me tornar inelegível por fake news”, reclamou. Dias atrás, na GloboNews, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) informou que Jair Bolsonaro será incluído no relatório, entre os supostos autores de crimes na pandemia, por “disseminar fake news e desincentivar a vacinação.”
À vontade com repórteres que mais ouviam do que perguntavam, o presidente voltou a defender o uso de medicamentos sem comprovação científica, o chamado ‘kit covid’. Ao citar a cloroquina, argumentou que a Globo fez matéria positiva sobre o remédio anos atrás.
“A matéria da Globo dizia que a cloroquina não causava arritmia e, de repente, passou a causar arritmia (no uso contra a covid)”, questionou. A reportagem em questão foi exibida no ‘Jornal Nacional’ em 2016 e destacava o uso da cloroquina por mulheres grávidas a fim de proteger o cérebro de fetos da infecção pelo vírus da zika.
Ainda a respeito do canal da família Marinho, Bolsonaro reprovou a cobertura jornalística da pandemia. “O pavor também leva a óbito. Não podemos apavorar a população”, disse. Aproveitou para alfinetar a emissora pela perda de direitos de transmissão de eventos esportivos para a concorrência. “É aquela história... Futebol no SBT, covid é na Globo.”
O jornalista com microfone da TV Tribuna/Globo perguntou ao presidente sobre a hostilidade sofrida por uma equipe do canal na noite de sexta-feira (8), também no Guarujá, quando um apoiador de Bolsonaro xingou os profissionais e deu um tapa na câmera do repórter-cinematográfico.
“Não vi. Aqui tem umas 100 pessoas, se alguém fizer algo de errado, o que que eu tenho a ver com isso, meu Deus do céu? Não vi as imagens. Sou contra qualquer agressão, assim como sou contra a agressão que vocês fazem com fake news”, desconversou e finalizou a entrevista.