Bolsonaro não se distancia da imprensa que ele tanto critica

Presidente tem um hábito inédito na relação com os repórteres em comparação aos antecessores no cargo

2 nov 2019 - 16h26
(atualizado às 17h05)
O presidente Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro
Foto: IstoÉ

Todas as manhãs, Jair Bolsonaro pede ao motorista do Fusion Presidencial para parar diante da concentração de jornalistas e admiradores na portaria do Palácio da Alvorada.

O presidente poderia dar atenção apenas aos seus eleitores, ávidos por uma selfie, mas faz questão de responder perguntas dos repórteres. Respostas ao seu modo, obviamente.

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Quase sempre, Bolsonaro se irrita com os questionamentos. Não é raro deixar o local sem esclarecer temas controversos lançados pelos representantes de jornais, revistas, rádios, TVs e portais de notícias.

Nenhum outro presidente manteve contato diário tão próximo com os repórteres de Brasília. O que chegou mais perto disso foi Fernando Collor, no auge da efêmera popularidade, quando obrigava cinegrafistas e fotógrafos a correr atrás dele, literalmente, durante o cooper nos arredores da Casa da Dinda.

Bolsonaro já declarou várias vezes ter a imprensa como um de seus principais inimigos. Ele se sente perseguido e injustiçado pelas grandes companhias de comunicação, especialmente o Grupo Globo, comandado pela família Marinho, e a Folha de S. Paulo, do clã Frias.

No entanto, não consegue – ou não quer – manter o distanciamento protocolar que os presidentes costumam ter no trato com os jornalistas. Faz questão da convivência frequente, do enfrentamento permanente.

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Por um lado, esse comportamento incomum gera valiosa publicidade espontânea a ele e ao seu governo. É uma maneira de atingir os bolsonaristas não captados nas redes sociais.

Mas há o efeito colateral: o excesso de exposição faz o presidente estar sempre em conflito com a imprensa. Nessa relação desgastada, às vezes as boas notícias são ofuscadas por polêmicas bobas suscitadas nos confrontos diários com os repórteres.

Vive-se um paradoxo: os meios de comunicação nunca foram tão atacados e ameaçados como agora sob a presidência de Jair Bolsonaro, e jamais tiveram tanto material para divulgar como nesses turbulentos primeiros meses de mandato.

Para o bem e para o mal, o Brasil de hoje é uma interminável fábrica de manchetes bombásticas.

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