Bolsonaro pop: auxílio de R$ 600 abafa notícias ruins na TV

Aprovação recorde do presidente resulta também da postura menos bélica diante das câmeras de TV

15 ago 2020 - 11h24

Jair Bolsonaro está rindo à toa. Caso tenha assistido ao Jornal Nacional de sexta-feira (14), viu a exibição de gráfico a respeito do crescimento impressionante de sua aprovação, de acordo com pesquisa do Datafolha. Conseguiu recorde de avaliação 'ótimo ou bom' desde o início do mandato: 37%. A reprovação ('ruim ou péssimo') ao seu desempenho caiu 10 pontos, de 44 para 34, em apenas dois meses. O JN apresentou os dados sem comentar o resultado do levantamento.

A overdose de manchetes ruins no JN não impediu Bolsonaro de aumentar sua popularidade
A overdose de manchetes ruins no JN não impediu Bolsonaro de aumentar sua popularidade
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV

Já na GloboNews, onde Bolsonaro é criticado diuturnamente, âncoras e comentaristas analisaram essa virada surpreendente na imagem do chefe do Executivo. Para a maioria deles, a concessão do auxílio-emergencial criado para atenuar os efeitos econômicos da pandemia de covid-19 explica a boa fase.

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"As pessoas passaram a ter dinheiro real, o que nunca tiveram antes", afirmou Gerson Camarotti no Edição das 18h. "O presidente Bolsonaro não chegava aos grotões. Esse auxílio mudou a realidade das pessoas nesses poucos meses." Na visão do jornalista, os brasileiros contemplados com o benefício passaram a enxergar Bolsonaro com simpatia. Boa parte deles está no Norte e Nordeste, onde o presidente era pior avaliado até pouco tempo. Veterana na cobertura da política em Brasília, Cristiana Lôbo comentou a movimentação de Bolsonaro pelo País. "Ele está amando viajar, encontrar o povo, ser aplaudido, saudado", disse.

A guinada abrupta de Bolsonaro acontece à revelia da publicidade negativa à imagem dele nos últimos meses. Desde março, o presidente está superexposto de maneira negativa na imprensa por conta de seu negativismo em relação aos efeitos do novo coronavírus e o aceno a manifestações antidemocráticas. Telejornal mais visto do País, o JN chegou a dedicar 45 minutos em uma única edição (a de 25 de março) para contestar declarações e atitudes dele. No sábado passado, dia 8, os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos sugeriram que Bolsonaro não cumpre seu dever constitucional de prezar pela saúde do povo.

Tamanha e contínua visibilidade desfavorável — crucial para fazê-lo o mais impopular presidente no primeiro ano de mandato — perdeu força de impacto após o início do pagamento das parcelas de 600 reais a milhões de trabalhadores informais, microempreendedores, autônomos e desempregados. "A pandemia, por incrível que pareça, e apesar do saldo trágico de mortos, acabou ajudando o presidente", opinou Natuza Nery no Jornal das 10.

O crescimento do apoio a Bolsonaro se explica por outro motivo. Se antes ele tinha ataques verborrágicos diários diante das câmeras de TV, com péssima repercussão na mídia, agora vive um período "paz e amor". Houve mudança de comportamento. Esqueça as declarações raivosas e os ataques frequentes a jornalistas. O político ávido por confrontos optou pela autopreservação: evita polemizar, está quase diplomático.

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"Eu creio que um dos princípios essenciais da sabedoria é o de se abster das ameaças verbais ou insultos", escreveu Nicolau Maquiavel, autor do clássico O Príncipe, considerado um manual indispensável a governantes ambiciosos. Para uma figura pública, se manifestar pouco pode ser mais vantajoso do que aparecer toda hora na mídia. No momento, Jair Bolsonaro gargalha. Os jornalistas acostumados a reprová-lo estão espantados e sem vontade de sorrir.

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