“Como você coloca nossos inimigos dentro de casa?”, questionou Jair Bolsonaro a Gustavo Bebianno, no WhatsApp, em fevereiro.
O presidente referia-se a uma reunião agendada pelo então ministro com o vice-presidente de Relações Institucionais da Globo, Paulo Tonet. Na época, o encontro foi cancelado.
Corta para a tarde de terça-feira, 21 de maio. Bolsonaro recebe em seu gabinete, no Palácio do Planalto, o tal ‘inimigo’. A agenda oficial previa trinta minutos de conversa.
Tonet não representa apenas o maior e mais poderoso canal de TV País. Ele é também o atual presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão.
Mas é claro que, na interpretação geral, ter sido recebido pelo presidente indica possível bandeira branca entre o capitão e a família Marinho, dona do Grupo Globo.
Bolsonaro sempre disparou críticas pesadas contra os veículos da companhia, especialmente a TV Globo e o jornal O Globo. Afirma ser perseguido.
Durante a campanha eleitoral, prometeu reduzir a verba de publicidade oficial do governo ao grupo carioca. Após assumir o cargo, priorizou atendimento ao jornalismo da RecordTV e do SBT.
O cenário mudou. A queda de seu índice de aprovação e a dificuldade de fazer propaganda da reforma da Previdência podem tê-lo convencido a reconsiderar a guerra particular contra o império Globo.
Os telejornais da emissora registram audiência relevante nos quatro cantos do Brasil.
O principal deles, o Jornal Nacional, chega a registrar mais de 30 pontos, algo em torno de 6 milhões de telespectadores somente na Grande São Paulo.
Contar com ampla divulgação das pautas do governo na tela da Globo é bom negócio a político de qualquer ideologia.