O sábado (24) foi de plantão para William Bonner e Renata Vasconcellos. Logo na abertura do ‘Jornal Nacional’, o âncora e editor-chefe anunciou matéria a respeito de redução no orçamento do Ministério do Meio Ambiente em momento de pressão internacional sobre o Brasil a respeito do desmatamento na Amazônia.
“Na Cúpula de Líderes sobre o Clima, o presidente Jair Bolsonaro prometeu dobrar os recursos para fiscalização, mas um dia depois sancionou o Orçamento com corte de 240 milhões (de reais) para o Meio Ambiente, destinados em emendas parlamentares”, informou a repórter Flávia Alvarenga.
A matéria mostrou o pedido de R$ 270 milhões feito pelo titular da pasta, Ricardo Salles, ao Ministério da Economia a fim de compensar a perda de recursos para fiscalizar a ação predatória no território amazônico. “O governo atual vem tratando a política ambiental como uma coisa que atrapalha”, disse a entrevistada Suely Araújo, do Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama.
A mesma reportagem reproduziu trecho de vídeo do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, lamentando em rede social o corte em sua pasta. A supressão de recursos poderá comprometer a pesquisa da “vacina 100% brasileira” propagada por Bolsonaro em algumas entrevistas. O ex-astronauta classificou a perda de verba como “estrago” no trabalho do ministério.
Na volta da imagem ao estúdio, ao vivo, Bonner comentou a posição do governo ao ser questionado pelo ‘Jornal Nacional’. “Nós procuramos o Palácio do Planalto para que se manifestasse a respeito das críticas no corte do Orçamento. A assessoria pediu que nós procurássemos o Ministério da Economia, a Casa Civil e a Secretaria de Governo, e nenhum desses órgãos deu retorno aos nossos pedidos.”
Em post deste blog em 5 de fevereiro (‘Estratégia de Bolsonaro deixa Bonner e Renata sem respostas’), se destacou a indiferença da cúpula do Executivo com o principal telejornal da Globo — o mais assistido do País, com cerca de 50 milhões de telespectadores a cada noite. “Uma mesma frase sai quase todas as noites da boca dos âncoras do Jornal Nacional: ‘O Palácio do Planalto não quis comentar’”, diz trecho da análise.
Houve um ensaio de mudança na relação do governo com o jornalismo da Globo, como apontou outro post, em 2 de abril. ‘Palácio do Planalto dá rara e rápida resposta do ‘JN’’ foi o título. Um recorte: “Matéria sobre o alto índice de contágio pelo coronavírus entre os servidores do Palácio do Planalto fez os assessores de Bolsonaro agirem com rapidez. Poucos minutos após a repórter Camila Bomfim passar as informações, uma nota oficial foi lida pela âncora Mariana Gross (Bonner e Renata estão de folga nesta Semana Santa)”.
Na sequência, a conclusão. ““Eu não assisto à TV Globo”, afirmou Bolsonaro algumas vezes. Mas muita gente nos palácios de Brasília dá audiência ao canal da família Marinho. Ontem, a agilidade ao redigir e enviar o esclarecimento ao ‘JN’ — com o objetivo óbvio de que a resposta fosse levada ao ar — ressalta o maior zelo do governo por sua imagem pública e o poder de influência do telejornal.”
Desta vez, a resposta pode não ter sido providenciada por se tratar de um sábado, dia de pouco trabalho em Brasília. Como tal questionamento era mais do que previsível na imprensa, o governo poderia ter preparado antecipadamente uma nota oficial. A expressão facial de William Bonner explicitou seu incômodo com a falha de comunicação e o fato de o ‘JN’ ter sido ignorado mais uma vez. Esses pequenos entraves no dia a dia dão munição à ‘guerra’ entre Bolsonaro e a Globo.