Boris critica militantes de fake news e diz como se informa

Jornalista investe em atração no YouTube sem descartar a possibilidade de voltar à TV

9 nov 2020 - 16h46

No ar há três semanas, o Jornal do Boris se tornou opção interessante a quem busca informação com análise. Trata-se da estreia de Boris Casoy no universo da internet. O canal de YouTube se tornou prioridade para o veterano comunicador desde que ele deixou a RedeTV, em setembro.

Boris no estúdio em sua casa: jornalismo ‘olho no olho’ com total liberdade
Boris no estúdio em sua casa: jornalismo ‘olho no olho’ com total liberdade
Foto: Reprodução

Em conversa com o Terra, o jornalista comentou o novo desafio, a falta de profundidade do telejornalismo na TV aberta e revelou alguns hábitos de quem não vive sem estar conectado à notícia.

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Boris no ‘TJ Brasil’ (SBT), em 1988, onde se consagrou: renovação no jeito de fazer jornalismo na TV
Foto: Reprodução

Boris, você construiu sua carreira a partir da imprensa escrita, que está em crise, e depois se consolidou na TV aberta. Como é, agora, fazer jornalismo na internet?

Na verdade, comecei no rádio e tive uma passagem por assessorias de imprensa; depois jornal. Estou fechando o ciclo, agora com a internet. No fundo é um desafio. E eu vivo de desafios. Em fevereiro, completarei 80 anos. E esse jornal está me revigorando física e mentalmente. A adaptação tem sido fácil, embora possa ser trabalhosa. Aprendi que jornalismo é jornalismo em qualquer plataforma.

Há uma crítica de que o jornalismo na TV aberta é superficial e apressado, sem a necessária análise cuidadosa dos fatos. Concorda com isso?

Infelizmente é verdade. O jornalismo na TV aqui no Brasil acaba privilegiando mais a imagem do que o conteúdo. Isso parece estar mudando com maior presença das emissoras exclusivamente jornalísticas, mas elas estão no a cabo, fora do alcance do grande público.

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Acredita que sua audiência no YouTube será mais jovem do que aquela que o acompanhou durante tantos anos na TV?

Ainda não tenho uma avaliação exata de quem me assiste. Procuro atingir uma faixa etária ampla. Tento falar “todas as línguas”. No começo da minha presença na TV, apesar de criticado por uma linguagem supostamente elitista, as pesquisas mostraram que eu era o âncora preferido pelas classes C e D. E eu acho que não era só pela minha beleza (risos).

O seu canal tem clima intimista, como nos programas de rádio. Acha importante quebrar a impessoalidade na comunicação?

Feliz ou infelizmente o ‘Jornal do Boris’ é muito pessoal. E não posso agradar e não quero agradar todo mundo.

O rompimento abrupto do contrato, por parte da RedeTV, o pegou de surpresa ou já esperava? Você teria aceitado voltar à bancada mesmo fazendo parte do grupo de risco?

Como eu já estive do outro lado do balcão, foi fácil perceber que uma emissora em crise não iria pagar meu salário indefinidamente, sem trabalhar. Estava praticamente parado desde março. A RedeTV colocou em recesso todos os apresentadores de mais de 60 anos. Eu me recusaria a voltar durante a pandemia. Não sou suicida e nem tenho tempo de morrer. Minha saída foi mansa e pacífica. Nada de brigas, nem ressentimentos. Saí amigo da direção e não tenho nenhum problema com a emissora.

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Voltaria a fazer TV? Houve algum contato de outra emissora?

Voltaria sim. Como voltaria ao rádio, jornal ou revista. Ainda tenho muito gás. Não fui procurado por ninguém. Isso só vai acontecer, se acontecer, depois da pandemia. Mesmo se tiver uma outra ocupação, decidi que a internet é meu trabalho principal. Além do desafio profissional, sou dono de meu nariz, o que não tem preço.

Na sua avaliação, os palpiteiros das redes sociais e a onda de fake news enfraqueceram ou fortaleceram o jornalismo profissional no Brasil?

Deveriam fortalecer. Mas o grande público no mundo todo confunde a imprensa profissional com esses aventureiros ou militantes. Essa gente está sendo combatida, mas ainda sem sucesso.

Você é usuário entusiasmado da internet ou a usa apenas para o necessário?

Na minha casa sempre tem uma TV e um rádio ligados. Também acompanho o mundo pela internet. Não sei se isso é normal, mas sou assim.

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Pingue-pongue:

Principais fontes de informação no dia a dia: “Todas as possíveis! A partir de quatro jornais por dia. Tenho calos nos dedos de tanto mudar de estação de rádio e de TV”.

Livro do momento: “Agora na pandemia estou relendo as obras completas de Carlos Drummond de Andrade, um gênio”.

Programa jornalístico na TV: “Todos os de entrevistas, mas só quando há alguém interessante falando”. 

Facebook, Instagram ou Twitter: “Comecei agora. Sempre evitei, foi bobagem minha”. 

Um âncora que é ou foi referência para você: “Não tenho referências. Acabei, e isso foi sem querer, criando um modelo próprio”.

Dica a um jovem jornalista em início de carreira: “Ler muito, conhecer uma língua estrangeira e pelo menos um pouco de economia. É o mínimo”.

Para quem você diria ‘Isso é uma vergonha’ hoje? “Tem tanta coisa que não quero fazer nenhuma discriminação (risos)”.

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