Sem perspectiva de contrato longo, sentindo-se desprestigiados ou simplesmente atraídos por salários mais altos, muitos atores e apresentadores trocaram a Globo pela Record na última década.
Não deve ter sido uma decisão fácil. Ser ‘global’ gera um status imensurável à carreira – e ao ego, obviamente. É o ápice de quem sonha com o sucesso na TV.
Mas, para conseguir se destacar entre as centenas de contratados da emissora líder em audiência, não basta apenas talento.
Sem ter a ‘grande chance’ de mostrar do que são capazes, muitos se desiludem com a ex-Vênus Platinada e vão buscar reconhecimento e estabilidade financeira na concorrente.
Lá, o glamour é menor e a repercussão, também. Contudo, são maiores as chances de ganhar um papel de protagonista e faturar o suficiente para realizar, enfim, os sonhos materiais.
Foi assim com Rodrigo Faro. Em 2008, ele era um ator com pouca visibilidade na teledramaturgia da Globo, escalado somente para viver coadjuvantes.
Já com vinte anos de carreira naquela época, ousou romper o contrato com o canal e se transferir para a Record.
Rapidamente se tornou sucesso comandando atrações como ‘Ídolos’ e ‘O Melhor do Brasil’. Hoje, o seu ‘Hora do Faro’ é vice-líder no Ibope aos domingos e um dos melhores faturamentos da casa.
Há muitos anos sem renovar o quadro de apresentadores do fim de semana, a Globo vê no apresentador a figura ideal para alavancar a programação do sábado ou domingo.
A fúria pelo rompimento do acordo – um diretor da emissora chegou a declarar que Faro jamais voltaria a trabalhar lá – foi superada pela perspectiva de audiência e dinheiro que a imagem dele poderá render.
E Rodrigo Faro é, inquestionavelmente, um dos melhores artistas da televisão brasileira. Competente e carismático, com credibilidade e sem estrelismo, ímã de patrocinadores.
Na Record, não existe para onde crescer. Ao voltar triunfalmente à Globo, o apresentador, de 43 anos, oxigenaria a carreira e duplicaria o status. Além de acrescentar muitos milhões ao patrimônio.
Márcio Garcia fez a mesma rota: Globo-Record-Globo. Retornou ao canal carioca depois de quatro anos bem-sucedidos à frente de ‘O Melhor do Brasil’.
Após participações mornas em novelas e séries, só conseguiu em 2016 o tão sonhado programa próprio, ‘Tamanho Família’. A troca valeu a pena? Ainda que tenha enfrentado a temida ‘geladeira’ por um tempo, o apresentador não demonstra arrependimento.
Entre os que são essencialmente atores, a lista de ex-globais com passagem pela Record e que optaram regressar à Globo é extensa.
Um caso exemplar é o de Gabriel Braga Nunes. Em 2005, após dez trabalhos na Globo, ele assinou com a Record. Interpretou protagonistas e mereceu o respeito da crítica.
Em 2011, ao fazer seu retorno, salvou a Globo de um desastre ao assumir o papel de Fábio Assunção, que deixara o elenco de ‘Insensato Coração’ depois ter gravado várias cenas.
Desde então, Nunes passou a ter lugar cativo no primeiro time da emissora, sendo disputado pelos principais autores. No momento, coprotagoniza a novela das 18h, ‘Novo Mundo’.
A possível transferência de Rodrigo Faro da Record à Globo vai reforçar um movimento que se repete. A maioria dos artistas de outros canais quer estar na emissora número 1, a sorver tudo o que ela proporciona: prestígio, mídia, superação, consolidação.
Para o filósofo alemão Nietzsche, seria uma “vontade de potência”. Ou seja, o desejo de sentir-se no topo do mundo, dono de um poder especial. Quem nunca?