William Waack foi entrevistado pelo filósofo Luiz Felipe Pondé para o canal de YouTube Democracia na Teia.
O ex-âncora do Jornal da Globo, agora número 1 do canal CNN Brasil (com estreia prevista no segundo semestre), analisou a crise de imagem de sua antiga emissora.
O veterano da comunicação afirma que a rejeição ao canal é resultado de “decisões editoriais equivocadas, por atitudes de alguns de seus executivos”.
O declínio de popularidade e credibilidade teria começado na cobertura dos protestos durante o governo de Dilma Rousseff.
“Desde 2013, a Globo não foi capaz de entender que, enquanto buscava aplausos de grupos de esquerda, pagos com dinheiro público desviado para destruí-la, uma parcela crescente da população brasileira passava a ver a emissora como mais uma ferramenta de perpetuação da miséria e da ignorância intelectuais e políticas no Brasil, porque é assim que ela ganha dinheiro.”
Waack, que trabalhou no canal da família Marinho entre 1996 e 2017, questiona a condução da empresa. “Como é que um grupo privado, lucrativo, bem organizado, que vive da imagem, consegue se colocar numa imagem tão negativa?”
Na opinião do jornalista, a Globo errou ao não ser transparente com o telespectador em relação aos seus ideais e interesses políticos.
“Acho importantíssimo numa democracia representativa que os grandes grupos de comunicação tenham suas opiniões e as defendam”, argumentou.
Questionado por Pondé se concorda com a afirmação do presidente Jair Bolsonaro de quem toda a mídia é petista, William Waack ponderou.
“Muitos (jornalistas) pensam com esse submarxismo rastaquera típico de instituições acadêmicas brasileiras sem nem sequer saber”, afirma.
“Mas não acho que a imprensa brasileira em geral seja tão manipuladora, tão enviesada, tão irresponsável como os seus autoinimigos declarados dizem. O que eu acho é que boa parte do público não encara mais essas instâncias como uma referência à qual pode recorrer quando quer averiguar a veracidade objetiva dos fatos.”
Mesmo admitindo que o País conta com uma imprensa “viva, crítica, sólida, atuante”, o âncora condena o politicamente correto no jornalismo.
“O politicamente correto é uma narrativa da realidade por interesses políticos de grupos determinados. Mas isso consegue ter um verniz de que é bonitinho, bom, positivo, progressista, que sinaliza um avanço. Não sinalizou avanço coisa nenhuma. O Brasil continua tão injusto, tão desigual, tão racista como sempre foi.”
Foi por um comentário considerado racista, feito enquanto aguardava para entrar no ar, que Waack deixou a Globo, no final de 2017.
Ainda na entrevista ao Democracia na Teia, o ex-correspondente internacional criticou a atuação da maioria dos repórteres de telejornais.
“Você vê um repórter sentado na rua, esperando alguém da redação dizer no celular dele o que ele vai ter que falar para a câmera. Isso na minha época era inimaginável. O cara está lá e um gênio qualquer, confortavelmente no ar-condicionado, tá dizendo para o trouxa o que ele vai falar ou não. Quando isso acontece, acabou (o jornalismo).”
Na visão de William Waack, “a moderna tecnologia de comunicação facilitou a mediocridade”.
“Quando eu comecei não havia celular; tinha mais rua, mais contato com a realidade.”