Eram 21h50 quando o âncora William Waack apressou o fim de uma entrevista do ‘Jornal da CNN’. “O presidente está se manifestando ao vivo, vamos acompanhar”, anunciou.
Jair Bolsonaro surgiu sorridente na tela da emissora. Estava na portaria do Palácio da Alvorada. Em pé, encostado em uma grade de proteção, sem máscara, ele puxou assunto com jornalistas de plantão.
“Só (parei) para dar boa noite. Tenho profundo respeito a vocês que na ponta da linha aí pegam no pesado na informação, né? Dizer que não paro aqui por maldade a vocês, não. É para evitar distorções, só isso. Vivo em paz. Quanto menos falo com a imprensa, mais em paz eu fico”, disse.
Aparentemente, Bolsonaro não responderia perguntas dos repórteres, mas acabou conversando com Leandro Magalhães, da CNN Brasil, única emissora com microfone posicionado no local.
O presidente falou pausadamente, com paciência poucas vezes vista no trato com a imprensa. Um Bolsonaro zen. “Tá abrindo o céu aí”, afirmou, bem humorado, a respeito das divergências entre governo e Congresso para a aprovação do Orçamento.
Questionado, opinou sem se irritar sobre a decisão do STF de autorizar estados e municípios a proibir cultos. Mostrou-se preocupado com o aumento de casos de depressão e suicídio na pandemia e com a perda de renda dos informais em razão do “fecha tudo” das medidas de distanciamento social.
Admitiu que o valor do novo auxílio emergencial “é muito pouco”. Nesse momento, fez revelação sobre o passado. “No meu tempo de militar da ativa, ganhava-se pouco naquela época. Hoje ganha-se um pouquinho melhor. Qualquer importância equivalente hoje a 250 reais era sempre bem-vinda. Eu fazia ‘bico’. Apesar de ser tenente do Exército, eu fazia ‘bico’. Vendia bolsa de paraquedas, eu me virava, fazia outras coisas.”
A entrevista exclusiva de Jair Bolsonaro para a CNN Brasil aconteceu 24 horas depois do jantar que reuniu alguns nomes da elite empresarial do País em São Paulo. Um dos presentes no evento foi Rubens Menin, da construtora MRV Engenharia e do Banco Inter — ele ocupa o 1444º lugar no novo ranking de bilionários da revista ‘Forbes’, com fortuna estimada em 2,2 bilhões de dólares, cerca de R$ 12,3 bilhões.
O empresário acaba de se tornar dono de 100% das ações do canal de notícias concorrente da GloboNews. Antes, tinha como sócio na CNN Brasil o ex-Record Douglas Tavolaro. Menin sempre foi entusiasta de Bolsonaro. Em contato com jornalistas na saída do jantar, contou ter aprovado o discurso do presidente. “Foi uma conversa boa, eu gostei, me deu tranquilidade”, declarou.