Machismo. Sexismo. Assédios moral e sexual. Racismo. Ética. Lealdade e falsidade. Individualismo e coletividade.
Esses temas relevantes, entre tantos outros, suscitam debates na imprensa, nas redes sociais e em milhões de casas nos quatro cantos do País. A fonte da discussão é improvável: o mais criticado reality show da televisão brasileira.
Sim, o Big Brother Brasil faz muita gente pensar, repensar, concatenar, concluir, mudar de opinião, dar a cara a tapa para defender convicções e atuar contra determinadas atitudes. Os acontecimentos no confinamento servem para tirar o telespectador da zona de conforto. O entretenimento considerado fútil, quem diria, impulsiona empatia, posicionamento e até ativismo.
É raro um programa de TV sem pretensões artísticas ou filosóficas produzir tamanho engajamento e consciência social. Tornou-se impossível assistir ao BBB20 sem reagir aos conflitos da convivência entre brothers e sisters, seja por ter já vivido algo parecido ou se imaginar na mesma situação.
A competição pelo prêmio de R$ 1,5 milhão está em segundo plano. O que interessa à maioria dos participantes e ao público é o combate de personalidades e ideias, assim como a discussão e o julgamento de comportamentos. Zoológico humano, o Big Brother faz cada pessoa envolvida, seja dentro do reality show ou como telespectador, mergulhar em si mesmo e, às vezes, se conhecer mais a partir de pensamentos e reflexos.
O BBB20 tem produzido um efeito social igual ao das novelas engajadas. Deixou de ser mero entretenimento descartável e passou a contribuir com o debate de graves problemas da sociedade. Do sexismo dos chernoboys ao racismo estrutural contra Babu, do elitismo de Marcela à saúde mental de Victor Hugo, da virulência de Felipe Prior à insolência de Pyong, tudo serve para tirar o telespectador da apatia limitante e fazê-lo raciocinar. Bom seria se a maioria dos programas de TV fosse assim tão envolvente e estimulante.