Dependência da superexposição custa caro na era da pandemia

O caso da punição de patrocinadores à influencer Gabriela Pugliese ilustra um dilema entre as celebridades

28 abr 2020 - 08h53

Ninguém saberia que Gabriela Pugliese recebeu amigas em casa para uma festa se ela não tivesse postado fotos nas redes sociais. Uma vez em sigilo, o evento não teria provocado tamanho desastre na imagem da influenciadora fitness nem a fuga de várias marcas patrocinadoras de seu conteúdo. Mas, qual a graça de promover um agito social sem mostrá-lo aos milhões de seguidores, não é mesmo? Na era da evasão de privacidade, escancarar a intimidade virou regra a quem foge do anonimato e da circunspecção.

Muitas celebridades da internet não conseguem controlar o impulso de filmar e divulgar quase tudo da intimidade
Muitas celebridades da internet não conseguem controlar o impulso de filmar e divulgar quase tudo da intimidade
Foto: Vecteezy/Divulgação

O isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19 gerou um dilema aos famosos da internet: continuar a exibir uma vida perfeita, ao estilo do maravilhoso mundo de Caras (e assim garantir muitos 'likes' e posts pagos), ou adequar fotos, vídeos e textos à realidade que exige comedimento, prudência e empatia? Prosseguir com o estímulo à idolatria da própria imagem ou se mostrar consciente, engajado e solidário? A crise planetária suscitada pelo novo coronavírus desmonta os frívolos arquétipos do Instagram e estimula (ou obriga) os influenciadores a uma autorreflexão.

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O mercado publicitário adotou o discurso da responsabilidade social. Como disse o ícone Washington Olivetto, não é hora de vender, e sim de informar e prestar um serviço. As marcas que investem em digital influencers fazem monitoramento rigoroso das postagens. Não querem estar associadas a quem se mostra irresponsável em relação à saúde coletiva. Por outro lado, alguns grandes anunciantes surfam no modismo das lives de shows e dos posts com discurso humanitário. Muitas celebridades da TV e da web disfarçam o desejo de aparecer e faturar ao se apresentar como bom exemplo no papel de formador de opinião.

Essa contestação da superficialidade das redes sociais vai resultar em algo concreto? Teremos mais qualidade de ideias no pós-quarentena? Os céticos dirão: não, tudo voltará ao 'normal'; a superexposição voluntária, a curiosidade excessiva a respeito da vida alheia e o apelo comercial ressurgirão com força. Já os otimistas creem em uma transformação da sociedade no geral e da web em particular, com a valorização das relações interpessoais dentro e fora da internet. Difícil acreditar nesse milagre.

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