A vida de Thelma Assis renderia uma novela. Foi adotada com três dias de vida. Aos 15, soube detalhes da adoção ao receber ligação anônima no orelhão da rua onde morava. Na faculdade de medicina era a única negra em sua turma e teve a capacidade questionada por ser bolsista. Em várias ocasiões foi tratada como enfermeira por pessoas que não a viam como doutora.
No ‘Big Brother Brasil 20’, sentiu o desprezo e o deboche de alguns participantes por ter sido considerada uma ‘planta’ no jogo. Mesmo sagrada campeã do reality show mais assistido da televisão brasileira, não se livrou da discriminação. Sofreu injúria racial em várias ‘lives’. Em resumo, desde os tempos de anonimato e mesmo depois da fama meteórica, ela precisa superar obstáculos a cada dia.
Essa guerra íntima para garantir a dignidade como mulher e negra a transformou em referência a milhões de pessoas. A trajetória de vida inspiradora e a história construída no ‘BBB’ atraíram o interesse do mercado publicitário. Em apenas sete meses de exposição pós-reality, Thelma estrelou campanhas institucionais sobre a pandemia de covid-19 e vários comerciais de marcas milionárias.
Aquela que durante anos padeceu por baixa autoestima virou a embaixadora no Brasil dos cosméticos da cantora Rihanna, garota-propaganda de sandálias anteriormente anunciadas por Gisele Bündchen e influenciadora de uma das maiores indústrias de artigos de beleza da França. O mercado viu a beldade que ela própria não enxergava.
Em seu perfil no Instagram, onde possui 6 milhões de seguidores, faz ações de merchandising dos mais variados produtos: de creme dental a fritadora elétrica, de chocolate a ração para cachorro, de plataforma de streaming da Globo a serviço de desinfecção de carro e corretora de investimentos. Estima-se que, em sete meses, tenha dobrado o prêmio de R$ 1,5 milhão recebido no ‘Big Brother’.
Em ano marcado pelos protestos antirracistas mundo afora, Thelma Assis gerou visibilidade imensurável aos negros e ampla discussão na imprensa e nas redes sociais a respeito do racismo estrutural. Enquanto a maioria dos últimos vencedores do ‘BBB’ mereceu evidência efêmera, a médica-ativista-celebridade conquista cada vez mais espaço, prestígio e valorização de sua imagem. Veio para ficar e faz a diferença.